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Protesto interrompe discurso de premiê no aniversário da batalha de Okinawa

O maior combate aéreo, terrestre e naval de todos os tempos matou mais de 200 mil pessoas

Itoman, Japão - Manifestantes pacifistas contrários à presença militar americana interromperam o discurso do primeiro-ministro japonês Shinzo Abe nesta terça-feira (23/6), em uma cerimônia para recordar os 70 anos da batalha de Okinawa, a mais violenta da Guerra do Pacífico. "Devemos celebrar por podermos desfrutar a paz, a segurança e a liberdade depois de termos atravessado desgraças indescritíveis", disse Abe.

O discurso foi interrompido em vários momentos por militantes contrários à presença militar americana em Okinawa, que a população suporta cada vez menos. "Vá para casa", gritaram os manifestantes em várias ocasiões. O arquipélago de Okinawa, ocupado pelos Estados Unidos do fim da II Guerra Mundial até 1972, abriga mais da metade dos 47 mil militares americanos presentes em território nipônico.

Os habitantes da ilha, com o governador Takeshi Onaga à frente, protestam há vários meses contra o projeto de transferir a base aérea americana de Futenma, instalada em uma zona urbana, para a região litoral de Henoko, com população menor. Onaga denunciou o "peso" que a base americana representa e exibiu mais uma vez a anulação do projeto de transferência. Ele defende que a base deixe a província. "Um total de 73,8% das instalações militares americanas estão concentradas em nossa região, que representa apenas 0,6% do território do Japão", disse Onaga.

[SAIBAMAIS]Situada perto da China e da península coreana, Okinawa tem um grande valor estratégico para os Estados Unidos. Os moradores reclamam do barulho dos aviões e temem acidentes. Mas, sobretudo, denunciam os riscos vinculados à presença de muitos marines americanos, com base nos vários casos de estupro registrados nos últimos anos.



Abe reiterou a intenção de concretizar a transferência, decidida em 1996, como parte de um tratado de segurança Japão-EUA. O primeiro-ministro, conservador e nacionalista, pretende reformar a Constituição pacifista do Japão para reforçar o papel militar nipônico no cenário internacional. O projeto é muito impopular no Japão, um país ainda traumatizado pela Segunda Guerra Mundial e as bombas atômicas americanas que destruíram, em 1945, as cidades de Hiroshima e Nagasaki.

A sóbria recordação dos 70 anos da batalha de Okinawa aconteceu em Itoman, perto do local onde os oficiais do Exército Imperial obrigaram um suicídio coletivo de civis para impedir a rendição aos americanos. Milhares de moradores e alguns sobreviventes da guerra prestaram homenagem diante de um monumento com os nomes das vítimas. Yoshiko Shimabukuro, 87 anos, foi uma das 222 estudantes da ilha mobilizadas no campo de batalha em uma unidade de enfermaria. "Quando chega junho tenho todo tipo de recordações: medo, dor, terror", disse à AFP Shimabukuro, que tinha 17 anos quando foi alistada pelo exército.

A batalha de Okinawa, considerada o maior combate aéreo, terrestre e naval de todos os tempos, durou 82 dias, de 1; de abril a 22 de junho de 1945, e matou mais de 200 mil pessoas, entre civis e soldados, japoneses e americanos. A violência dos combates deixou cicatrizes profundas em Okinawa. "Nunca perdoarei o Japão pelo que aconteceu", afirmou Shimabukuro. "E agora que estamos em paz, o Japão tenta mudar a Constituição para nos transformar em um país capaz de fazer a guerra de novo", disse, visivelmente inquieta.

A guerra do Japão no Pacífico terminou após o lançamento das bombas atômicas em Hiroshima (140.000 mortos) em 6 de agosto e Nagasaki (74 mil mortos) em 9 de agosto. Em 15 de agosto de 1945, o imperador Hirohito anunciou ao povo estupefato o fim da guerra, mas sem pronunciar em nenhum momento a palavra "derrota". No dia 2 de setembro do mesmo ano, a assinatura do documento de rendição do Japão marcou o fim da Segunda Guerra Mundial.