Cidade do Vaticano, Santa Sé - A "encíclica verde" do papa Francisco, divulgada oficialmente nesta quinta-feira (18/6), chega num momento-chave para a comunidade internacional, que em seis meses realizará uma cúpula em Paris (França) para frear o aquecimento do planeta, segundo os especialistas. "A mensagem do Papa para pedir a proteção do planeta foi dirigida a todos, e não apenas aos católicos. O papa busca um terreno comum com os não fiéis e com as pessoas de outras religiões", afirma o vaticanista Iacopo Scaramuzzi, da agência Askanews.
O texto do Papa argentino, entre as personalidades mais populares e influentes do mundo, estimado por presidentes, políticos, líderes religiosos - como o patriarca de Constantinopla -, assim como por pastores, rabinos e imãs, "conta com um apoio amplo e vai pesar muito, sobretudo entre os países mais católicos, como México e Brasil, potências emergentes", afirma Scaramuzzi.
[SAIBAMAIS]O texto do Papa, de 200 páginas, pretende influenciar as decisões que serão tomadas em dezembro contra o aquecimento do planeta, um tema que preocupa muito 79% dos cidadãos, segundo uma pesquisa realizada de forma simultânea em 79 países. A encíclica, chamada Laudato Si (Louvado Seja), convida a tomar ações concretas para frear este fenômeno provocado por uma exploração insensata e cujos efeitos atingem sobretudo os países mais pobres. "O Papa, como vários de seus antecessores, relança a doutrina social da Igreja, mas com um tom mais crítico ao denunciar a submissão da política à tecnologia e aos centros de poder financeiros", sustenta, por sua vez, Marco Politi, entre os biógrafos de Francisco.
O pontífice latino-americano, que chegou do "fim do mundo", como ele mesmo afirma, que conhece sua terra, localizada na fronteira do polo sul, e que observou a pobrezas e as desigualdades da América Latina, ataca principalmente um modelo de desenvolvimento injusto. Francisco levanta a voz contra a modernização obsessiva e denuncia o falso humanismo que relega a pessoa em benefício da máquina. Assim como Francisco de Assis, o santo no qual se inspira, defensor dos pobres e da natureza, o Papa lança ao mesmo tempo uma reivindicação social, ao denunciar a relação direta entre destruição do meio ambiente, pobreza e exploração econômica, e também uma espiritual. "Para o Papa, a evolução do planeta é um argumento religioso", explica Scaramuzzi.
No texto também adverte que de nada adianta lutar contra um destes três fatores se os outros não forem atacados. A primeira encíclica dedicada à ecologia e à defesa do meio ambiente e da "mãe Terra" representa um momento importante para a história da Igreja. "O olhar da Igreja se amplia. Parte dos pobres, das vítimas, e chega ao globo, ao aquecimento climático", afirma o especialista.