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Rússia quer clareza na resolução sobre combate ao tráfico de pessoas

Como um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, a Rússia tem o poder de vetar a resolução, caso não esteja de acordo com o texto

Em encontro hoje (1;) com o ministro do Exterior, Paolo Gentiloni, em Moscou, o ministro do Exterior russo, Sergei Lavrov, disse que a Rússia tem interesse em ajudar a resolver o problema do tráfico de pessoas no Mar Mediterrâneo, desde que haja clareza sobre a ação da União Europeia (UE) em território líbio.

A União Europeia anunciou, no mês passado, uma missão naval e aérea para destruir barcos e prender traficantes de pessoas que atuam no Mediterrâneo, em especial no espaço aéreo e marítimo da Líbia, principal porta de saída de migrantes ilegais rumo à Europa. Para agir em território líbio, porém, a UE precisa de uma autorização do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).

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Como um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, a Rússia tem o poder de vetar a resolução, caso não esteja de acordo com o texto. Lavrov manifestou a intenção de apoiar a proposta, desde que ela seja cuidadosamente detalhada para ;evitar abusos;.

A Rússia acusa o Ocidente de abusar de uma resolução concedida em 2011 autorizando a intervenção na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) na Líbia para ajudar a derrubar o então ditador Muammar Kadhafi, que governava a nação há 42 anos.

A Líbia vive em situação de extrema instabilidade desde que Kadhafi foi derrubado e morto pelos rebeldes. Dois governos reivindicam o poder e enfrentam resistência de milícias, além de ameaças de grupos islâmicos. O caos no qual o país está mergulhado facilita a ação de traficantes, que todos os dias lançam ao mar barcos lotados de pessoas que entregam tudo o que tem pela promessa de um futuro melhor na Europa.

Só este ano, 51 mil migrantes chegaram ao Continente Europeu por várias rotas. Cerca de 1,8 mil morreram antes de completar a travessia do Mediterrâneo. O número de mortes é 200 vezes maior do que o registrado no mesmo período do ano passado. Os migrantes são, a maioria, da Síria, do Paquistão e de várias partes da África Subsaariana, que fogem da guerra, da miséria e da perseguição religiosa.

Mais de 60% dos migrantes que chegaram à Europa este ano entraram pela Itália, resgatados de barcos que partiram da costa da Líbia. Sem documentos e sem ter para onde ir, eles sobrevivem de ajuda humanitária e esperam regularização.

A União Europeia aguarda posicionamento do Conselho de Segurança da ONU sobre a questão. Caso a autorização seja concedida, a previsão é de que a missão seja iniciada no segundo semestre deste mês.