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Aprovação do casamento gay na Irlanda impõe desafios à Santa Sé

Além disso, o fato decidido em referendo expõe divergências na base da sociedade


A reação da Igreja Católica à vitória do ;sim; no referendo sobre a legalização do casamento gay na Irlanda não poderia ser pior e sugere como a Santa Sé deve abordar o tabu secular na doutrina cristã. Foi uma mensagem contundente em um país de 4,8 milhões de habitantes, dos quais 84,7% são católicos. Na consulta popular de 22 de maio passado, 61% dos 3,2 milhões de irlandeses que foram às urnas avalizaram a união homossexual. Na última terça-feira, o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, dispensou a diplomacia ao analisar o resultado: ;Eu acho que você não pode falar apenas de uma derrota para os princípios cristãos, mas uma derrota para a humanidade;.

O padre redentorista Tony Flannery, cofundador da Associação de Padres Católicos da Irlanda, acredita que o voto popular irlandês vai estimular outros países a seguirem o exemplo. ;Isso colocará o Vaticano contra as cordas? Sim, a menos que eles aprendam uma resposta melhor do que a dada pelo cardeal Pierolin;, admitiu ao Correio (leia o Três perguntas para).

Professor de estudos de teologia católica romana na renomada Universidade de Harvard, Francis Schüssler Fiorenza não descarta que a Igreja possa se engajar num debate sobre a legitimidade do casamento gay, apesar de apontar a inércia em relação a temas como a contracepção e o divórcio. ;Já existe uma forte consciência, entre muitos no Vaticano, de que em alguns locais e culturas onde o catolicismo cresce, há muito menos aceitação da união homossexual do que no Ocidente;, afirmou, por e-mail.

Paradigmas

Segundo ele, a Igreja será obrigada a adotar novos paradigmas para absorver a lição irlandesa. ;Será muito mais do que utilizar uma linguagem ou um argumento melhor. Trata-se de uma mudança fundamental no tocante à aceitação das diferenças e das visões de sexualidade;, explica. ;Quando católicos votam pelo casamento gay e a hierarquia lamenta o voto, o que ocorre na sociedade e na Igreja não é tanto uma discordância sobre uma verdade individual, mas uma diferença na base de ambas.;

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