A epidemia de aids continua a se espalhar na Rússia e irá afetar pelo menos um milhão de pessoas até 2016 e poderia de dois a três milhões dentro de cinco anos - alertou nesta quinta-feira o chefe do Centro Federal Russo de contra a aids.
Segundo Vadim Pokrovsky, ouvido pela AFP, mais de 930.000 pessoas estão atualmente infectadas com o vírus da aids na Rússia, quase duas vezes mais do que em 2010, quando o país registrou 500.000 casos.
O limiar simbólico de um milhão de pessoas que vivem com o HIV pode ser ultrapassado no início de 2016 e "se não forem tomadas medidas drásticas, o número de pacientes infectados pelo HIV pode chegar a dois a três milhões em quatro ou cinco anos", alertou o especialista.
"A Rússia é um dos poucos países no mundo onde o número de casos continua a aumentar", afirmou.
Durante o primeiro trimestre de 2015, pelo menos 30.000 pessoas foram infectadas com o vírus, um aumento de 10% em relação ao ano anterior, explicou Pokrovsky às agências de notícias russas.
Em comparação, a Alemanha não contabiliza mais do que mil casos a cada ano. Sozinha, a Rússia tem um número de pessoas infectadas com o HIV maior do que "todos os países europeus", segundo o especialista.
"Isso mostra que as medidas tomadas pelo governo são ineficazes", lamentou à AFP, atribuindo a alta da epidemia ao fracasso da política de promoção dos valores tradicionais e conservadores feita pelo Kremlin.
Na Alemanha, lembrou, "as crianças aprendem que é preciso usar o preservativo", enquanto na Rússia essas medidas preventivas não são implementadas - a Igreja Ortodoxa, cada vez mais influente no país, faz uma oposição ferrenha.
Mesmo que medidas drásticas sejam tomadas agora, a taxa de infecção vai continuar a subir durante dois e três anos "por inércia", adverte Pokrovsky.
Se o consumo de drogas por via intravenosa é o principal vetor de contaminação, a transmissão sexual do vírus aumentou, representando mais de 41% dos novos casos.
"As estatísticas mostram que a contaminação através do sexo heterossexual está aumentando", acrescentou Vadim Pokrovsky.
"A transmissão (do HIV) afeta pessoas com idades entre 25 a 35 anos", explicou. "Eles morrem quando atingem cerca de 35 anos de idade".
No final de novembro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou para um forte aumento nas infecções por HIV na Rússia e as antigas repúblicas soviéticas, enquanto tais casos estagnaram na Europa Ocidental.
Segundo a OMS, levando em consideração os países europeus e os da ex-União Soviética, a Rússia é o país onde a taxa de infecção é mais elevada (55,6 por 100.000), seguido por Ucrânia (39,4) e Estônia (24,6).
Cerca de 192.000 pessoas morreram em decorrência da aids na Rússia desde o final dos anos 1980.
Em 2013, 35 milhões de pessoas estavam vivendo com o vírus HIV, de acordo com dados da UNAIDS. Desde o início da epidemia, cerca de 78 milhões de pessoas foram infectadas e 39 milhões morreram de doenças relacionadas à aids.