Jornal Correio Braziliense

Mundo

Novas ameaças ofuscam celebrações do fim da Segunda Guerra Mundial

Longe das cerimônias solenes por ocasião do desembarque das tropas aliadas na Normandia, às quais muitos chefes de Estado compareceram, cada país decidiu desta vez organizar atos nacionais

Paris - A Europa e os Estados Unidos comemoraram nesta sexta-feira o 70; aniversário da vitória sobre a Alemanha nazista, símbolo de esperança e liberdade, enquanto seus líderes alertavam sobre as ameaças atuais, como a guerra na Ucrânia e o jihadismo.

"Vamos nos manter unidos ao lado dos nossos aliados, na Europa e em outras partes (...) contra o sectarismo e o ódio em todas as suas formas, para dar um sentido a esta promessa: ;Não nos esqueçamos. Nunca mais;", disse o presidente americano, Barack Obama.

[SAIBAMAIS]

Longe das cerimônias solenes por ocasião do desembarque das tropas aliadas na Normandia, às quais muitos chefes de Estado compareceram, cada país decidiu desta vez organizar atos nacionais.

Em Paris, o presidente francês, François Hollande, destacou, quatro meses depois dos atentados jihadistas de janeiro, a herança da resistência ante o nazismo, agora que a França vive um recrudescimento do comunitarismo, o antissemitismo e a extrema-direita.


"Sou judia. Nem me vanglorio, nem me envergonho, mas sinto que o antissemitismo está aumentando na França e fico com medo", declarou Thér;sse Szynkaman, de 88 anos, ex-integrante da Resistência, ao receber a Legião de Honra nos Inválidos.

"Não vivemos a guerra, a encaramos como uma realidade distante, às vezes abstrata, embora não esteja tão longe de nós, na Ucrânia (...), no Oriente Médio, ou seja, a quatro ou cinco horas de avião", declarou o presidente francês.

"Há cidadãos franceses que, infelizmente, vão a lugares de conflito onde podem perder a vida para ser alistados, doutrinados", disse Hollande, em referência aos franceses que viajaram à Síria ou ao Iraque para se unir a grupos jihadistas.

Hollande presidiu posteriormente uma cerimônia no Arco do Triunfo com o primeiro-ministro, Manuel Valls, e com o secretário americano de Estado, John Kerry, que foi a Paris para se reunir com vários de seus colegas do Golfo.

Em 1945, "países feridos pela guerra embarcaram em um novo caminho que uniu o continente (...) Hoje, graças à União Europeia, estamos mais próximos do que nunca de uma Europa livre e em paz", afirmou Kerry em uma declaração escrita.

"Hoje somos solidários com o povo da Ucrânia diante da agressão russa (...), recorremos a sua liderança (da UE) na luta contra (o grupo) Estado Islâmico. E celebramos sua ação para salvar vidas (de imigrantes) no Mediterrâneo", acrescentou Kerry.

No Reino Unido, recém-saído da batalha eleitoral que deu a vitória contundente ao Partido Conservador de David Cameron, os adversários de ontem se encontraram em uma cerimônia pela concórdia no memorial Cenotaphe de Londres.

De Glasgow a Birmingham, passando por Cardiff e Londres, o país respeitou dois minutos de silêncio, 70 anos depois do histórico discurso de Winston Churchill na rádio, proclamando o fim da guerra.


Sombra do conflito ucraniano

A Alemanha, que foi derrotada em 1945 e se converteu em um modelo de democracia e em uma potência econômica, também celebrou a libertação do obscurantismo nazista e agradeceu aos aliados ocidentais e ao exército vermelho por sua luta contra o nazismo.

"Colocaram fim ao regime de terror nacional-socialista às custas de sacrifícios inimagináveis", disse o presidente do Bundestag (Câmara Baixa), Norbert Lammert, durante uma cerimônia no Parlamento com a chanceler Angela Merkel.

Em Viena, a "Festa da alegria" estava prevista para a noite na praça dos Heróis, a mesma onde centenas de milhares de austríacos aclamaram Hitler pela anexação do país pela Alemanha nazista em 1938.

Nos Estados Unidos, antigos aviões de guerra, símbolos da vitória, sobrevoaram Washington durante 45 minutos ao meio-dia.Em Moscou, onde líderes ocidentais acompanharam Vladimir Putin no 60; aniversário do fim do conflito, em 2005, não irão à Rússia neste sábado para assistir ao 70; aniversário por causa do conflito ucraniano. Eles acusam o Kremlin de armar os separatistas pró-russos do leste da Ucrânia, uma afirmação que a Rússia sempre negou.

Na Praça Vermelha de Moscou desfilarão 16.000 soldados e 194 veículos blindados, e 143 aviões e helicópteros sobrevoarão o lugar. A Rússia celebra o fim da guerra em 9 de maio, e não no dia 8, pela diferença de fuso horário entre a capital russa e Berlim, onde foi assinada a capitulação alemã.

A guerra na Ucrânia gera muita preocupação no continente, sobretudo entre os ex-membros da União Soviética que integraram a União Europeia e têm receio das aspirações russas.

O lugar da Ucrânia está "dentro do lar europeu comum", declarou o presidente polonês, Bronislaw Komorowski, que inaugurou as comemorações de 8 de maio na madrugada desta sexta-feira.

"Na Europa ainda há forças que lembram os períodos mais sombrios da história europeia do século XX, que seguem a lógica das zonas de influência e tentam manter seus vizinhos no estado de dependência dos vassalos", afirmou.

Para dramatizar sua ruptura com Moscou, a Ucrânia, uma ex-república soviética que sofreu muitas baixas entre 1941 e 1945, decidiu celebrar pela primeira vez o fim da guerra no dia 8 de maio, e não no dia 9.