O escândalo das escutas que teriam sido realizadas pelos serviços secretos alemães a pedido dos Estados Unidos parece se aproximar nesta quinta-feira da chanceler Angela Merkel.
"O caso do BND (serviço de inteligência alemão) ganha força e alcança a chancelaria", afirmava nesta quinta-feira em uma manchete o jornal conservador Die Welt, geralmente favorável a Merkel.
A maioria da imprensa local apresentava a notícia em sua primeira página.
O jornal Bild, que também não costuma ser muito crítico à chanceler, classificava de hipócritas as declarações feitas por Merkel em 2014, após a revelação de que a NSA - serviços de inteligência americanos - havia espionado um de seus telefones: "Espionar amigos é totalmente inaceitável", declarou na época.
"No melhor dos casos, a chancelaria não queria saber o que a NSA fazia em solo alemão - isso é, espionar nossos ;amigos; na Europa", acrescentava o jornal mais lido da Alemanha.
O jornal Süddeutsche Zeitung revelou nesta quinta-feira, além disso, que os serviços secretos alemães espionaram "funcionários de alto escalão do ministério francês das Relações Exteriores, do palácio do Eliseu (sede da presidência francesa) e da Comissão Europeia".
"Não sei o que aconteceu. As autoridades alemãs, incluindo os parlamentares, devem se encarregar disso, e veremos o que acontece", declarou o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, enquanto Paris afirmava manter "intensos contatos com (seus) sócios alemães sobre esta questão".
Estas novas acusações do Süddeutsche Zeitung se somam à suposta espionagem do BND às empresas aeronáuticas europeias EADS (hoje Airbus) e Eurocopter (atualmente Airbus Helicopters) em nome da NSA.
A Airbus indicou nesta quinta-feira que havia "pedido informações a Berlim e que apresentará uma acusação contra pessoa desconhecida por suspeitas de espionagem industrial".
Além do escândalo, o que mais irritava a imprensa alemã eram as possíveis mentiras do governo. "Quem esconde algo no escândalo do BND?", se perguntava o Bild, acusando Merkel. "Ontem continuava muda", lamentava o jornal.
Favorita nas pesquisas
A oposição acusa o governo de ter mentido ao declarar no dia 14 de abril que não sabia nada sobre uma possível espionagem econômica por parte da NSA.
"Nego categoricamente a afirmação segundo a qual o governo não disse a verdade", respondeu na quarta-feira Steffen Seibert, porta-voz de Merkel.
O ministro alemão do Interior, Thomas de Maiziere, muito próximo a Merkel, era ministro da chancelaria no momento dos incidentes e, portanto, responsável pelos serviços secretos.
Por isso propôs comparecer na próxima semana ante a comissão parlamentar que investiga as práticas da NSA.
No entanto, embora alguns analistas acreditem que o caso pode ter consequências negativas para De Maiziere, a chefe do governo continua sendo intocável.
"Merkel só será ameaçada se o Estado-Maior da CDU (união demo-cristã, o partido conservador que preside) tiver o sentimento de que pode perder as eleições de 2017, e não é o caso", afirmava Gero Neugebauer, cientista político da Freie Universtitat de Berlim.
Na Alemanha é quase certo que a chanceler voltará a se apresentar em 2017 para um quarto mandato e, se as pesquisas atuais não variarem, será eleita com uma grande vantagem.