Baltimore - Baltimore despertou em calma nesta quarta-feira depois de passar a primeira noite sob toque de recolher, uma medida tomada depois dos distúrbios resultantes das manifestações realizadas nos últimos dias em reação à violência policial contra a comunidade negra.O toque de recolher que entrou em vigor na terça-feira às 22H00 (horário local) será mantido por uma semana.
Dez pessoas foram presas na noite de terça, segundo a polícia, sete delas por violar o toque de recolher. Outros manifestantes que desafiaram a medida foram dispersados com bombas de efeito moral e gás de pimenta.
[SAIBAMAIS]
Segundo a imprensa local, uma biblioteca sofreu uma tentativa de incêndio.Milhares de homens da Guarda Nacional e reforços da polícia foram mobilizados nesta cidade portuária da costa leste dos Estados Unidos, onde os incêndios se extinguiam lentamente e várias lojas foram totalmente saqueadas por manifestantes durante os violentos protestos da véspera.
Os distúrbios já deixaram mais de 140 veículos queimados, 20 policiais feridos e 235 suspeitos detidos, informaram as autoridades.Equipes de voluntários saíram às ruas para limpar os escombros.Os distúrbios que paralisaram Baltimore começaram na segunda-feira, após o funeral de Freddie Gray, um negro de 25 anos, que morreu vítima de sérias lesões na coluna vertebral oito dias depois de ter sido preso pela polícia.
Os advogados da família de Gray explicaram que a morte do jovem, que ficou uma semana em coma, foi causada por graves lesões sofridas depois da detenção.
Seis policiais foram suspensos sem direito a pagamento até o fim das investigações, cujas conclusões serão apresentadas na sexta-feira a promotores do estado de Maryland.
A polícia de Baltimore confirmou que Gray solicitou auxílio médico depois de sua detenção e admitiu que deveria ter recebido este atendimento médico de forma rápida.
Em um vídeo da detenção, gravado por uma testemunha com telefone celular, é possível ver Gray gritando de dor quando era levado por vários agentes para uma caminhonete da polícia.
O presidente Barack Obama condenou os atos de violência em Baltimore e afirmou que não há desculpas para eles, mas destacou estar convicto de que os Estados Unidos enfrentam uma crise latente em relação à polícia, especialmente em sua abordagem com os negros.
"Vemos muitos exemplos de interação entre a polícia e as pessoas, principalmente com os afro-americanos, geralmente pobres, que levantam questões preocupantes", afirmou o presidente em coletiva na Casa Branca.
Na opinião de Obama, "o departamento de polícia deve fazer uma reflexão". "E acho que há comunidades que devem fazer uma reflexão. Acho que todos nós, como um país, devemos fazer uma reflexão".
Obama afirmou ainda que, se o país quiser resolver os problemas que envenenam a moderna sociedade americana, os Estados Unidos devem não apenas repensar a formação da polícia, como também seu sistema educacional e talvez uma reforma do sistema judicial.
Já a pré-candidata presidencial democrata Hillary Clinton convocou nesta quarta-feira os Estados Unidos a enfrentar as duras verdades sobre o problema de raça e justiça.
"Temos que chegar a um acordo sobre algumas duras verdades envolvendo raça e justiça nos Estados Unidos", disse Hillary em um discurso na Universidade de Columbia, Nova York, onde propôs reforças no sistema judicial penal e penitenciário do país.
"Há algo profundamente errado quando homens afro-americanos ainda têm muito mais chances de serem parados e detidos pela polícia, acusados de crimes e condenados a sentenças mais longas que seus compatriotas brancos", afirmou.
"Devemos encontrar nosso equilíbrio", acrescentou, apontando que "de Ferguson a Staten Island e Baltimore os padrões se tornaram inconfundíveis e indiscutíveis", em referência aos incidentes com jovens negros desarmados mortos pela polícia ocorridos desde meados do ano passado em diferentes partes do país.