"Os que tinham menos dinheiro estavam presos no porão", disse o jovem, identificado por seu primeiro nome, Abdirizak, ao jornal Corriere della Sera. "Nós estávamos no nível médio, e apenas os que pagaram mais estavam na parte de cima" do barco, acrescentou.
Quando a primeira colisão ocorreu, em plena escuridão, ocorreram cenas de terror. "Todos gritavam, empurravam, batiam, em um ambiente de terror. Podíamos ouvir os que estavam presos no porão gritarem ;socorro!'", contou.
"Não sei como, mas conseguimos começar a nadar no momento em que o barco afundava", a 110 km da costa líbia, relatou o adolescente.
Segundo o testemunho de outro jovem de 17 anos ao jornal britânico The Daily Telegraph, a maioria dos migrantes eram africanos e não sabiam nadar.
Os migrantes teriam pago entre 330 e 660 euros por sua viagem, segundo a procuradoria de Catania.Esta é a pior de uma série de tragédias que já cobrou mais de 1.750 vidas este anos, 30 vezes mais que no mesmo período em 2014.
Principal responsável
O capitão da embarcação que naufragou com centenas de imigrantes e foi apontado pela procuradoria italiana como o único responsável pela tragédia.
Segundo a justiça, a responsabilidade do capitão do barco, um tunisiano de 27 anos, Mohammed Ali Malek, é inquestionável, já que o homem provocou o naufrágio por ter sobrecarregado o barco e se mostrar sem condições de realizar manobras adequadas.
O balanço oficial da tragédia é de 24 mortos e 28 sobreviventes, mas o número de desaparecidos soma cerca de 800 pessoas, entre elas crianças e mulheres, segundo organizações humanitárias internacionais.
A Itália pediu a seus sócios da União Europeia nesta quarta que combatam juntos os traficantes de seres humanos no Mediterrâneo.Referindo-se a esses homens como "comerciantes de escravos do século XXI", também propôs intervir a longo prazo para ajudar os países ao sul da Líbia a se estabilizar.
Em uma declaração na câmara de deputados, depois de um minuto de silêncio em memória das 800 vítimas da tragédia, o chefe de governo italiano, Matteo Renzi, estimou que o que acontece hoje com tráfico de pessoas recorda a época em que se enviava milhares de escravos da África para a América.
"Não é apenas uma questão de segurança e de terrorismo, e sim de dignidade humana", enfatizou.A organização Anistia Internacional, por sua vez, pediu aos líderes europeus que atuem de forma urgente para acabar com a morte de imigrantes no Mediterrâneo.
Em um relatório publicado nesta quarta-feira e apresentado em Paris, a organização não governamental com sede em Londres exigiu a colocação em andamento imediata de uma operação humanitária "com barcos adequados, aeronaves e outros recursos".
"A negligência da Europa em salvar milhares de imigrantes e refugiados que se arriscam ao perigo no Mediterrâneo seria similar à negativa de bombeiros em salvar pessoas pulando de um edifício em chamas", afirma o texto.
Um plano de ação apresentado pela Comissão Europeia possui dez pontos, que incluem reforçar as operações de controle e resgate para responder à situação de crise migratória.
Este plano será apresentado na quinta-feira aos chefes de Estado e de governo da União Europeia durante a cúpula extraordinária, informou a Comissão em um comunicado.
Mas os especialistas são prudentes. "É preciso atacar a causa do problema, e não sua consequência. Quem está determinado a vir (para a Europa) sempre achará os meios", afirma Kader Abderrahim, do Instituto de Pesquisas Internacionais e Estratégicas (IRIS) de Paris.