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Governo da Colômbia e Farc trocam farpas, mas negociações de paz prosseguem

O ataque contra um pelotão do Exército no Cauca (oeste da Colômbia), em meio a uma trégua unilateral por tempo indeterminado decretado pelas Farc, elevou as tensões a níveis nunca vistos

Havana - O governo da Colômbia e a guerrilha comunista das Farc trocaram fortes recriminações nesta segunda-feira, mas se comprometeram a continuar com o processo de paz, que vive suas maiores tensões após um ataque rebelde que deixou 11 militares mortos.

"As Farc descumpriram sua própria palavra. Sua promessa de declarar e manter um cessar-fogo unilateral", disse à imprensa o negociador-chefe do governo, Humberto De la Calle, ao final de uma rodada de conversações de paz em Havana. No entanto, acrescentou, que "não vamos desistir de continuar este caminho do diálogo" para alcançar a paz.

Mais cedo, o representante das Farc nas negociações assegurou que a guerrilha manterá sua trégua unilateral na Colômbia, a não ser que suas unidades sejam atacadas pelo exército e pediu para que se persista nas negociações de paz.

"Manteremos o cessar-fogo unilateral e as hostilidades por tempo indefinido, enquanto não forem alvo de assédio permanente das tropas", afirmou Iván Márquez no encerramento do ciclo 35 das negociações de paz.

Apesar de as Farc terem lamentado publicamente as mortes dos 11 soldados, a guerrilha diz que se tratou de uma ação defensiva que não implica em uma violação de sua trégua unilateral, em vigor desde 20 de dezembro.

"É preciso entender que há ações ofensivas lançadas no âmbito da legítima defesa", afirmou Márquez.

O ataque contra um pelotão do Exército no Cauca (oeste da Colômbia), em meio a uma trégua unilateral por tempo indeterminado decretado pelas Farc, elevou as tensões a níveis nunca vistos, nem mesmo quando as negociações foram interrompidas, em novembro, depois que os rebeldes capturaram um general, a quem libertaram duas semanas depois.

"É o momento da fé"

O ataque fez com que os críticos ao processo de paz reiterassem suas demandas ao governo para que deixe as negociações com a guerrilha, que têm o apoio da comunidade internacional.

"A esperança se partiu. Mas quando a esperança se quebra é o momento da fé. Toda esta energia nacional transbordante deve ser destinada para um objetivo: continuar a busca pelo fim do conflito", indicou De la Calle.

"O diálogo, apesar de tudo, do que se diga, é o instrumento que pode por um fim à guerra de forma menos dolorosa, menos prolongada e, sobretudo, mais firme e duradoura. Por fim à guerra é mais imperativo agora do que nunca", acrescentou o chefe das negociações.

O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, ordenou na quarta-feira passada, após o ataque, a retomada dos bombardeios aéreos contra posições das Farc, os quais tinham sido suspensos em 10 de março.

Recesso

As partes iniciaram nesta segunda-feira um recesso de oito dias nas negociações e acordaram retomar as conversas em 28 de abril para continuar debatendo o complexo tema das reparações às vítimas do conflito armado de meio século, o último e mais longo da América Latina.



As negociações em Havana começaram em 19 de novembro de 2012, e até agora, as duas partes se colocaram de acordo em três dos seis pontos da agenda: reforma agrária (maio de 2013), participação política (novembro de 2013) e drogas ilícitas (maio de 2014).

As duas delegações trabalham desde 7 de março em um plano de limpeza das minas colocadas durante o conflito, que mataram e mutilaram milhares de colombianos. Segundo cifras oficiais, o conflito na Colômbia matou 220 mil pessoas e deixou 5,5 milhões de deslocados.