Mundo

Al-Qaeda e tribos se apoderam de aeroporto e terminal petrolífero no Iêmen

País pobre da península arábica, onde a população é fortemente armada e cujo território é dividido, o Iêmen vive há anos mergulhado na violência envolvendo grupos militares e religiosos

Agência France-Presse
postado em 16/04/2015 16:37
A rede Al-Qaeda tomou nesta quinta-feira um aeroporto no Iêmen, enquanto tribos se apoderaram de um terminal petrolífero, aproveitando-se do caos no país, três semanas após o início dos ataque aéreos árabes contra os rebeldes xiitas que tentam expandir seu poder.

Sem perspectivas de uma solução para o conflito entre rebeldes huthis e o poder incarnado pelo presidente exilado na Arábia Saudita, Abd Rabbo Mansour Hadi, o mediador da ONU no Iêmen, Jamal Benomar, apresentou sua renúncia após meses de esforços.

País pobre da península arábica, onde a população é fortemente armada e cujo território é dividido, o Iêmen vive há anos mergulhado na violência envolvendo grupos militares e religiosos, entre eles os huthis, a Al-Qaeda, poderosas tribos e mais recentemente o grupo jihadista Estado Islâmico (EI).

A situação degenerou em uma guerra aberta após a ofensiva lançada pelos huthis, com a ajuda de unidades militares leais ao ex-presidente Ali Abdallah Saleh, em julho de 2014.

A ofensiva permitiu a tomada da capital Sanaa em janeiro deste ano, além de várias regiões do centro e do oeste do país. Os rebeldes tentam agora tomar o sul, forçando Hadi a fugir em março para a Arábia Saudita sunita vizinha.

Este país, procurando deter o avanço dos huthis, apoiados pelo Irã xiita, lançou em 26 de março com outros países árabes ataques aéreos contra as posições rebeldes.

A violência fez centenas de mortos desde meados de março, incluindo um grande número de civis. Milhares de estrangeiros também foram obrigados a fugir do país.

Além disso, há uma grande escassez de água, alimentos, medicamentos e eletricidade.

Neste contexto de anarquia total, combatentes do ramo local da Al-Qaeda, Ansar al-Sharia, tomaram o aeroporto de Mukalla, capital da província de Hadramut (sudeste), após a "retirada sem resistência da unidade militar que fazia a segurança do local", declarou à AFP uma autoridade.


Ataques e combates



Com a tomada do aeroporto, a rede sunita passa a controlar toda Mukalla, com exceção de um campo militar nas mãos de prós-Hadi.

Al-Qaeda, inimiga dos huthis apesar de também combater o poder de Hadi, está fortemente presente no sul e sudeste do Iêmen.

A menos de 50 km a leste de Mukalla, homens armados de tribos locais tomaram o controle de um importante terminal petrolífero, Al-Shehr, após a retirada de soldados que guardavam o local, localizado em Hadramut, segundo uma fonte militar.

Já na terça-feira, tribo haviam tomado o único terminal de gás do Iêmen, o de Belhaf, na província vizinha de Chabwa.

Neste contexto, a violência continua a devastar todo o país, com os ataques dos aviões da coalizão árabe contra posições huthis e combates entre os rebeldes e os pró-Hadi, principalmente em Ta;z (sudoeste) e Àden, a capital do sul.

Em Àden, 261 pessoas morreram e quase 2.000 ficaram feridas desde 26 de março, segundo o diretor do departamento de Saúde, Al-Khedhr Lassuar. Cerca de "90% das vítimas são civis", garantiu.

;Lealdade em troca de dinheiro;

No quadro da ajuda humanitária, a Organização Mundial da Saúde(OMS) enviou um carregamento a Sanaa com 17 toneladas de ajuda médica, ressaltando que "os hospitais estão sofrendo uma queda rápida de seus estoques em razão do grande número de feridos".

Apesar do número elevado de vítimas, a Arábia Saudita, que afirma querer interromper a influência de seu rival iraniano, está determinada a continuar com sua campanha de bombardeios "até que os objetivos sejam alcançados", de acordo com seu embaixador em Washington, Adel Al-Jubeir.

Após tentar em vão encontrar uma solução para o conflito, o mediador da ONU apresentou sua carta de demissão. Segundo diplomatas, ele estava sendo criticado pelos pró-Hadi, incluindo Riad, por ter sido tapeado pelos huthis que se comprometeram com um diálogo, mas que continuaram com a ofensiva armada.

Em Riad, o vice-presidente iemenita no exílio, Khaled Bahah, exortou as forças armadas e de segurança ligadas aos rebeldes a "retornar à influência do Estado". Ele explicou o conflito pela pobreza no país.

"Podemos comprar a lealdade (das forças armadas) com dinheiro", garantiu.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação