A Rússia aprovou nesta segunda-feira (13/4) um decreto que suspende a proibição de fornecer ao Irã mísseis S-300, considerando que o acordo-quadro assinado em Lausanne entre as grandes potências e Teerã permite tal ação sem esperar uma eventual suspensão das sanções.
A decisão do presidente russo Vladimir Putin de assinar um decreto que abre a opção de enviar estes artefatos ao Irã por via marítima, terrestre ou aérea, desagradou os ocidentais.
Washington considerou que essas vendas "não ajudam" a concluir um acordo final com o Irã sobre seu programa nuclear.
O secretário de Estado, John Kerry, expressou suas preocupação ao colega russo, Serguei Lavrov, durante uma conversa telefônica.
Dada as tensões na região, "não é o momento de vender este tipo de sistema" ao Irã, indicou a porta-voz do Departamento de Estado, Marie Harf, considerando que a decisão de Moscou "não é construtiva".
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No dia 2 de abril, o Irã e o grupo 5%2b1 (China, Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e Alemanha) assinaram um acordo sobre o programa nuclear iraniano após meses de negociações.
Israel foi o primeiro país a reagir ao anúncio de Moscou, afirmando que esta decisão é o "resultado direto da legitimidade concedida ao Irã com o acordo em andamento, e a prova de que o crescimento econômico posterior ao levantamento das sanções (internacionais) será explorado pelo Irã para se armar, e não para garantir o bem-estar do povo iraniano", segundo afirmou o ministro da Inteligência, Yuval Steinitz.
Poucas horas depois, o coronel Steven Warren, porta-voz do Pentágono, considerou que as objeções dos Estados Unidos à "venda de tecnologia avançada" ao Irã "continuam válidas".
"Nossa oposição a esta venda é pública e de longa data. Acreditamos que ela não ajuda", declarou à imprensa.
Por sua vez, Teerã elogiou a decisão russa, afirmando que ela poderia garantir "uma segurança durável" na região.
O anúncio do Kremlin ocorre em um momento em que os negociadores do Irã e do grupo 5%2b1 têm até o final de junho para tentar definir os detalhes técnicos e jurídicos em vista de um acordo definitivo que acabaria com 12 anos de crise diplomática internacional sobre o programa nuclear iraniano.
O Kremlin anunciou por meio de um simples comunicado o decreto presidencial acabando com as limitações à venda ao Irã desses equipamentos capazes de interceptar em pleno voo aviões ou mísseis.
O chefe da diplomacia russa foi encarregado de retomar esta venda, concluída em 2007 em um contrato de 800 milhões de dólares para a entrega dos S-300.
O ex-presidente Dmitri Medvedev havia proibido em 2010 a entrega destes mísseis à República Islâmica - um contrato criticado pelo Ocidente e por Israel -, aplicando, assim, uma resolução da ONU para sancionar Teerã por seu controverso programa nuclear.
Após a proibição de 2010, Teerã levou o caso ao Tribunal Internacional de Arbitragem em Genebra (Suíça) para exigir de Moscou 4 bilhões de dólares como indenização.
Reaproximação Rússia-Irã
Segundo Serguei Lavrov, a decisão da Rússia de cancelar o fornecimento de baterias antiaéreas não estava ligada à resolução da ONU, mas simplesmente à vontade de Moscou de "estimular o processo de negociações" sobre o programa nuclear iraniano.
E ainda, de acordo com Lavrov, o fornecimento de S-300 não estava sob o embargo decidido pela ONU em junho de 2010 e que, portanto, não haveria a necessidade de a Rússia esperar o Conselho de Segurança da ONU retirar as sanções impostas contra Teerã.
Além disso, o chanceler russo fez questão de lembrar que os "S-300 têm características exclusivamente defensivas" e que não constituem nenhuma ameaça aos Estados Unidos e à região, inclusive Israel".
No início do ano, Moscou e Teerã assinaram um protocolo de acordo para reforçar a cooperação militar bilateral durante a visita do ministro russo da Defesa, Serguei Choigu, à capital iraniana.
A Rússia propôs, então, a entrega dos Antei-2500, uma nova versão dos mísseis S-300.
Irã e Rússia foram afetados por sanções econômicas de Estados Unidos e países europeus, Teerã, por culpa de seu programa nuclear, e Rússia, por seu envolvimento no conflito ucraniano.
Os dois países se aproximaram nos últimos anos no âmbito econômico e são os principais apoios do regime sírio de Bashar al-Assad.
Mas suas relações foram prejudicadas desde o início da crise diplomática internacional em torno do controverso programa nuclear iraniano.