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Turquia aperta o cerco a ativistas de extrema-esquerda

As forças de segurança prenderam mais de dez pessoas vinculadas ao Partido/Frente Revolucionária de Libertação do Povo (DHKP-C)

A polícia turca prosseguiu nesta quinta-feira com a onda de detenções em círculos de extrema-esquerda, depois de dois ataques em Istambul que aumentaram a tensão política a dois meses das eleições legislativas. Unidades antiterroristas apoiadas por blindados e um helicóptero entraram no bairro de Okmeydani, um reduto da esquerda radical.

As forças de segurança prenderam mais de dez pessoas vinculadas ao Partido/Frente Revolucionária de Libertação do Povo (DHKP-C), apontado como responsável pelos ataques. A operação aconteceu um dia depois de um ataque contra a sede da polícia local. No fim da tarde, uma mulher abriu fogo contra o edifício, antes de ser morta por tiros das forças de segurança. A polícia também feriu e prendeu um homem apresentado como um cúmplice, mas que era apenas um pedestre, informou o canal CNN-Türk.



Segundo a imprensa turca, a atiradora era Elif Sultan Kasem, de 28 anos e militante do DHKP-C. Na terça-feira, dois homens armados do DHKP-C sequestraram durante várias horas um promotor no Palácio de Justiça de Istambul e ameaçaram matar o magistrado. A intervenção da polícia terminou com a morte dos dois sequestradores e a do promotor Mehmet Selim Kiraz.

Os dois homens exigiam o indiciamento dos policiais que consideravam responsáveis pela morte do adolescente Berkin Elvan, que faleceu em consequência dos ferimentos provocados por uma bomba de gás lacrimogêneo durante os protestos contra o governo de 2013.

Para a oposição turca, o jovem virou um símbolo do que considera uma guinada autoritária e islamita do regime conservador do presidente Recep Tayyip Erdogan, que governa a Turquia desde 2003 (primeiro-ministro e presidente). O DHKP-C, que cometeu vários atentados desde os anos 1990, afirmou que deseja "vingar" Berkin Elvan. Quase 30 ativistas foram detidos na quarta-feira.

Os ataques de Istambul recordaram os "anos de chumbo" na Turquia e aumentaram a tensão política. O ministro da Educação, Bakan Avci, atribuiu os ataques do DHKP-C a um "complô". Na quarta-feira, o primeiro-ministro Ahmet Davutoglu citou uma "aliança do mal", na qual incluiu tanto os "terroristas" como os manifestantes antigovernamentais de 2013.

Em resposta, o opositor Partido Democrático Popular (HDP, pró-curdos) exigiu "todos os detalhes" sobre a morte do promotor, enquanto o Partido Republicano do Povo (CHP) pediu ao governo uma ação "com calma e senso comum".