Sana, Iêmen - A coalizão de países árabes liderada pela Arábia Saudita bombardeou pelo segundo dia consecutivo, em várias zonas do Iêmen, posições dos rebeldes xiitas huthis, adversários do presidente Abd Rabbo Mansur Hadi apoiados pelo Irã.
Vários países ocidentais, entre eles os Estados Unidos, reafirmaram seu apoio a Hadi, que na quinta-feira (26/3) chegou à Arábia Saudita, de onde viajará ao Egito para participar da cúpula da Liga Árabe marcada para sábado (28/3).
A intervenção militar da coalizão liderada pelos sauditas começou na quinta-feira, e responde ao pedido de Hadi, incapaz de frear a ofensiva dos huthis.
Os rebeldes xiitas tomaram em setembro o controle de Sanaa e nos últimos dias estiveram avançando a Áden, a grande cidade do sul do Iêmen, onde o presidente se refugiou antes de ir a Riad.
Nesta sexta-feira (27/3), os aviões da coalizão bombardearam posições huthis na região de Arhab, ao norte de Sanaa, provocando a morte de 12 civis, segundo funcionários do ministério da Saúde, controlado pelos rebeldes.
Desde o início da operação "Tempestade Decisiva", na quinta-feira, 39 civis morreram nos bombardeios, segundo o ministério.
Pelas ruas de Sanaa circulavam muitos veículos equipados com canhões antiaéreos. A queda de um projétil antiaéreo em um mercado deixou oito feridos, informaram fontes de segurança.
Interferências do Irã
Na noite de quinta-feira, os aviões da coalizão atacaram uma base militar na entrada oeste da capital, outra perto de Taex (sul) e a base aérea de Al-Anad, ocupada pelos rebeldes na última quarta-feira.
Os primeiros ataques da "Tempestade Decisiva" foram bem-sucedidos, declarou um porta-voz da coalizão em Riad, capital da Arábia Saudita.
Os ataques durarão até que sejam alcançados os objetivos da operação, acrescentou o porta-voz, que no momento descartou uma ofensiva terrestre.
O líder máximo dos rebeldes, Abdel Malek al Huthi, condenou a invasão e advertiu que os "iemenitas vão reagir".
O Irã, cujo presidente, Hassan Rohani, denunciou uma agressão militar, advertiu contra o risco de uma propagação do conflito.
A Arábia Saudita denuncia abertamente o envolvimento do Irã no Iêmen.
Por sua vez, o Irã nunca confirmou que ajude os rebeldes huthis, que na atual ofensiva contam com o apoio de militares leais ao ex-presidente Ali Abdullah Saleh, antecessor de Hadi.
"São os iranianos que interferem nos assuntos internos dos países árabes, seja no Líbano, Síria, Iraque ou Iêmen. Não podemos tolerar isso", declarou o embaixador saudita em Washington, Adel al-Khubeir, ao canal de televisão Fox News.
"Temos que enfrentar a agressão do Irã na região. Nos opomos ao seu apoio aos huthis e à tentativa dos huthis de se apoderarem do Iêmen", acrescentou.
"É evidente que os iranianos querem dominar a região", acrescentou Adel al-Khubeir.
A Arábia Saudita mobilizou 150.000 militares e 100 aviões de combate, enquanto os Emirados Árabes Unidos disponibilizaram 30 aviões de combate, o Kuwait 15 e o Catar 10, disse a rede de televisão de capital saudita Al-Arabiya. O Bahrein anunciou que participa com 12 aviões.
A operação mobiliza também o Egito, com sua aviação e sua marinha, além de Jordânia, Sudão, Paquistão e Marrocos, segundo Riad.
Segundo os especialistas, os ataques aéreos terão um efeito limitado sem uma intervenção terrestre.
Esta intervenção, no entanto, é pouco provável devido aos riscos de escalada com o Irã e de ficar presos em um longo conflito.
Esmagar os huthis mudará a complicada relação de forças entre as facções no Iêmen, mas isso pode "favorecer os grupos ultrarradicais sunitas", disse John Marks, especialista da região no instituto Chatham House.
Marks se referia à Al-Qaeda e, sobretudo, ao grupo Estado Islâmico (EI), que na semana passada reivindicou seus primeiros atentados mortíferos em Sanaa.