México - Os parentes dos 43 estudantes mexicanos desaparecidos seguem em luta, no dia em que completa-se seis meses sem notícias sobre os jovens, com novos protestos na Cidade do México para exigir que não seja encerrada a investigação.
"Os últimos seis meses, para nós, têm sido de tortura, de dor, de sofrimento", disse Melitón Ortega, tio de um dos desaparecidos, durante manifestação em frente ao Instituto Nacional Electoral (INE).
Na manifestação deste mês, os familiares das vítimas também foram ao INE para solicitar formalmente o adiamento das eleições previstas para junho, no estado de Guerrero, onde os jovens desapareceram após serem torturados.
"Este não é um movimento político, é pela vida de nossos 43 estudantes", lembrou Ortega. "Como pais, não podemos permitir que essas eleições aconteçam, nem em Guerrero, nem em qualquer lugar deste país, até que todos os jovens sejam encontrados".
Uma comissão formada pelas centenas de manifestantes entrou no prédio do INE e entregaram uma carta justificando os motivos para não haver dia de votação em 7 de junho. Há eleições regionais e locais agendadas em 16 dos 32 estados mexicanos.
Anistia Internacional: "muitas perguntas sem resposta"
Os 43 estudantes estudavam em uma escola normalista rural, de notória inclinação socialista, para depois se qualificarem como professores, em Ayotzinapa (Guerrero).
Em 26 de setembro de 2014, os jovens foram atacados por policiais locais, na cidade próxima de Iguala, ao que tudo indica por ordem do prefeito, que temia o boicote a um protesto contra sua esposa, irmã de narcotraficantes influentes na região. Desde então, não se conhece o paradeiro dos jovens.
De acordo com a reconstituição feita pela promotoria, os estudantes foram entregues a narcotraficantes do cartel local Guerreros Unidos na mesma noite e, em seguida, assassinados, incinerados e tiveram seus restos mortais jogados em um rio. Existe a hipótese de que o bando tenha suspeitado da presença de rivais de outro grupo, infiltrados entre os estudantes.
Até agora, apenas um dos jovens foi identificado por peritos austríacos, que analisaram os restos mortais encontrados no local do crime.
"Seis meses após o desaparecimento forçado dos 43 estudantes, expressamos nossa preocupação diante das muitas perguntas sem resposta", reiterou a Anistia Internacional, em comunicado.
Enviados ao México, especialistas da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) também têm afirmado que ainda não têm certeza sobre o que ocorreu com os jovens.
Já a nova procuradora-geral, Arely Gómez, nomeada no início de março, defendeu a investigação realizada por seu antecessor, Jesús Murillo Karam. Karam acusou uma centena de possíveis autores do crime, inclusive o prefeito de Iguala (próxima a Guerrero), José Luis Abarca, e sua esposa.
Aflitas há seis meses, as famílias dos estudantes pedem aos mexicanos que continuem a se solidarizar com a dor deles, rejeitando a máxima do governo, a fim de que o país supere a tragédia.