Paris - O voo 4U9525 da companhia aérea Germanwings começou como qualquer outro, com conversas habituais entre os dois pilotos, mas, após a saída do comandante da cabine, terminou em tragédia, por uma ação inesperada e inexplicável do jovem copiloto.
O promotor francês Brice Rodin, a cargo da investigação judicial na França, contou nesta quinta-feira (26/3) o ocorrido, baseando-se na gravação dos sons da cabine da caixa-preta do avião, que caiu na terça-feira (24/3) nos Alpes franceses quando realizava o trajeto entre Barcelona e Dusseldorf.
"Nos primeiros 20 minutos do voo, os dois pilotos (o comandante e o copiloto) conversaram de maneira completamente normal, e inclusive cortês e jovial, como dois pilotos durante um voo".
"Não acontece nada anormal", contou Robin em referência a estes momentos, sempre a partir da gravação da caixa-preta que registrou as conversas na cabine de pilotagem.
Nesse período, o avião alcançou normalmente sua altitude e sua velocidade de cruzeiro. Um último contato foi mantido com os controladores de tráfego aéreo no momento em que o avião entrava no espaço aéreo francês.
Na gravação, "ouve-se o comandante preparando o pouso em Dusseldorf. As respostas do copiloto parecem lacônicas".
O copiloto é Andreas Lubitz, de 28 anos e nacionalidade alemã.
Sozinho na cabine
"Depois ouve-se o comandante a bordo pedir que o copiloto assuma o comando, o ruído do assento que retrocede e da porta que se fecha".
"Podemos pensar legitimamente que se ausentou para atender a uma necessidade natural. Neste momento, o copiloto fica sozinho, manipula os botões de ;flight monitoring system; para acionar a descida da aeronave".
Assim como a justiça francesa, os diretores das Germanwings e da Lufthansa, sua casa matriz, apontaram o copiloto como origem da catástrofe. Ele bloqueou a porta da cabine, segundo fontes alemãs.
No avião, "a ação sobre o selecionador de altitude só pode ser voluntária", disse o promotor francês.
Na gravação da caixa-preta, "ouvem-se vários chamados do comandante pedindo o acesso à cabine" por intermédio do interfone com visor. "Se identificou, mas não há nenhuma resposta do copiloto. Bateu depois na porta, sempre sem receber resposta. No momento ouve-se um ruído de respiração humana dentro da cabine. Este ruído dura até o impacto final, o que quer dizer que o copiloto estava vivo".
Quando os controladores de tráfego aéreo se deram conta de que o Airbus A320 mudava de altitude e iniciava uma descida sem modificar sua trajetória retilínea, a torre de controle de Marselha (sul da França) tentou contactá-lo várias vezes. Pediu que o avião fizesse o código de emergência, o 7700, mas não receberam nenhuma resposta do copiloto, prosseguiu o promotor.
Gritos de terror
Ao se aproximar do solo, soaram os alarmes, perfeitamente audíveis na gravação. "Nesse momento ouvem-se golpes lançados violentamente para tentar derrubar a porta", mas "é uma porta blindada, em conformidade com as regras internacionais", acrescentou Robin.
"Pouco antes do impacto final, ouve-se o que pode ser provavelmente o ruído de uma primeira colisão contra um declive. O avião deslizou provavelmente por uma encosta antes de se chocar, a 700 km/h, contra a montanha. Nenhuma mensagem de socorro ou de emergência foi recebida pelos controladores de tráfego aéreo. Nenhuma resposta foi dada as suas numerosas mensagens".
Segundo o promotor, apenas alguns segundos antes do impacto os passageiros perceberam que iam se acidentar. E seus gritos de terror são ouvidos no momento anterior à colisão contra a montanha.
Para a justiça francesa, "a interpretação mais verossímil é que o copiloto, voluntariamente, recusou-se a abrir a porta da cabine ao comandante" e "acionou o botão de perda de altitude por uma razão que ignoramos totalmente, mas que pode ser analisada como uma vontade de destruir o avião".