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Investigação sobre queda de avião avança com dados de caixa-preta

Helicópteros já começaram os primeiros voos para transportar os restos dos corpos encontrados até o momento

A investigação sobre as causas da queda, ainda inexplicada, do Airbus A320 da companhia Germanwings nos Alpes franceses avançava nesta quarta-feira com a análise de uma das caixas-pretas, enquanto François Hollande e Angela Merkel sobrevoaram o local da tragédia.

O "envólucro" da segunda caixa-preta da aeronave da companhia alemã foi encontrado, mas "não a caixa-preta em si", informou o presidente francês.



A primeira caixa-preta, que contém todos os diálogos do cockpit, foi achada na terça-feira. Apesar de muito danificada, os investigadores franceses conseguiram extrair dados utilizáveis, relatou o diretor do Escritório de Investigações e Análises (BEA) da Aviação Civil francesa, Rémi Jouty, em coletiva de imprensa.

Os especialistas indicaram que ouviram vozes, mas acrescentaram que é preciso identificá-las. Eles disseram que ainda "não têm a menor explicação" sobre as causas do acidente que deixou 150 mortos. Nesta quinta, dois aviões com familiares das vítimas partem de Barcelona rumo a Marselha. De lá, o grupo segue para os arredores do local do acidente - anunciou o presidente da Lufthansa, Carsten Spohr.

Helicópteros já começaram os primeiros voos para transportar os restos dos corpos encontrados até o momento. Segundo a Justiça francesa, a gigantesca operação de recuperação dos corpos pode durar "dias, até semanas".

A Interpol anunciou o envio de especialistas para auxiliar nas buscas e na investigação. "Nenhuma hipótese foi descartada", à exceção de explosão em pleno voo, declarou o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, nesta quarta.

Ao mesmo tempo, o ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, explicou que o governo não privilegia a hipótese terrorista como causa do incidente. Segundo a companhia alemã Lufthansa, proprietária da Germanwings, "o avião estava tecnicamente em perfeito estado e os dois pilotos eram experientes".


Hollande, Merkel e Rajoy prestam homenagem


François Hollande, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o chefe do governo espanhol, Mariano Rajoy, homenagearam as vítimas da tragédia no início da tarde desta quarta-feira, em Seyne-les-Alpes, nos Alpes franceses.

Visivelmente emocionados, os três conversaram com bombeiros e militares que participam das operações de busca na zona. Depois, foram para uma capela onde, longe da imprensa, prestaram uma homenagem às 150 vítimas. Entre os mortos, há vários alemães e espanhóis.

Um momento de recolhimento também aconteceu frente à montanha, na aldeia próxima de Le Vernet, de onde se pode ver o local da catástrofe. Antes de chegar, Hollande e Merkel sobrevoaram a área da queda do avião.

Hollande prometeu "esclarecer" as circunstâncias da tragédia, enquanto Angela Merkel considerou que "é bom ver que, nessas horas tão difíceis, permanecemos juntos e unidos pela amizade". Se fará todo o necessário para "encontrar, identificar e entregar os corpos das vítimas às famílias", prometeu o presidente francês.

"Trabalharemos juntos e investigaremos juntos, como deve ser enquanto europeus, mas, sobretudo e antes de tudo, enquanto seres humanos", ressaltou Mariano Rajoy, que escreveu "não nos esqueceremos nunca de vocês" no livro de condolências.

Durante a visita dos três líderes europeus, as prefeituras das duas pequenas comunas vizinhas do local do acidente propuseram um monumento em memória das vítimas.

"Temos um vilarejo de 150 habitantes, e há 150 vítimas. Então, para nós, é como se todo o vilarejo tivesse sido arrasado de uma só vez da face da Terra", afirmou um dos prefeitos, François Balique, que dirige a localidade de Le Vernet.

Mais um americano entre as vítimas


A perigosa operação para recuperar os destroços do aparelho foi retomada logo ao amanhecer desta quarta. A tarefa será complexa, em consequência da dispersão de partes do avião em uma ampla área montanhosa de difícil acesso entre Digne-les-Bains e Barcelonette (Alpes da Alta Provença).

O Airbus A320 da Germanwings, uma companhia de baixo custo, filial da Lufthansa, caiu na terça-feira em uma área com montanhas que chegam a 3.000 metros de altitude. A aeronave seguia de Barcelona, na Espanha, para Düsseldorf, na Alemanha, com 144 passageiros e seis membros da tripulação a bordo.

Segundo o general francês David Galtier, "os pedaços de corpos humanos localizados não são maiores do que uma pequena maleta". Em Seyne-les-Alpes, foi montado um importante dispositivo de abrigo e apoio psicológico às famílias das vítimas, envolvendo hospedagem, alimentação, atendimento médico, entre outros.

Alemanha e Espanha foram os países mais atingidos pela catástrofe aérea, a pior registrada na França em mais de 30 anos. Entre as vítimas, estão 72 alemães, incluindo dois bebês e 16 adolescentes de Haltern (noroeste da Alemanha), que retornavam, ao lado de duas professoras, de um intercâmbio escolar na Espanha.

Em homenagem aos colegas de classe, os alunos de Haltern depositaram flores e velas nas escadas do colégio. "É uma tragédia que me deixa sem voz, com a qual deveremos aprender a viver", declarou o diretor do estabelecimento, Ulrich Wessel. "Ontem, éramos muitos, hoje estamos sozinhos", dizia um cartaz colado pelos alunos em uma mesa de pingue-pongue.

A lista de passageiros também incluía o nome de pelo menos 51 espanhóis, segundo o governo de Madri. De acordo com as autoridade francesas, as vítimas eram de 18 países. Entre os mortos, há dois colombianos, três argentinos, dois mexicanos - um deles com dupla nacionalidade (mexicano-espanhola) -, uma chilena e três americanos, de acordo com informações divulgadas pelos respectivos governos.