Trinta e cinco anos depois do assassinato do monsenhor Oscar Arnulfo Romero, o Vaticano reconheceu que houve uma campanha para denegrir o religioso salvadorenho na época do pontificado de João Paulo II.
Em fevereiro passado, o papa Francisco reconheceu Romero como "mártir da Igreja", um passo-chave para sua beatificação. Com a assinatura do decreto, não será necessário demonstrar que o religioso realizou algum milagre para ser beatificado.
Oscar Romero, chamado de "a voz dos sem voz", denunciou as violações dos direitos humanos e manifestou-se contra a repressão que abalou o seu país. Ele foi morto em 24 de março de 1980 por um atirador de elite do exército salvadorenho, no momento em que realizava a homilia.
A extrema-direita acusava monsenhor Romero de ser, entre outras coisas, um marxista desequilibrado e fantoche dos padres adeptos da teologia da libertação.
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Acusações, denúncias e críticas foram lançadas por diplomatas, políticos e religiosos.
Intrigas e pressões frearam o processo de canonização de Romero, que será finamente beatificado em 23 de maio, 19 anos depois do processo ter sido oficialmente aberto pelo Vaticano.
O arcebispo italiano Vincenzo Paglia, atual presidente do Conselho Pontifício da Família e postulador da causa de beatificação de Romero, reconheceu em fevereiro passado as inúmeras travas impostas ao processo.
"Se não fosse pelo papa latino-americano Francisco, Romero não seria beatificado", admitiu.
Entre os inimigos de Romero dentro do Vaticano figuram duas figuras influentes, os cardeais colombianos Alfonso López Trujillo, já falecido, e Darío Castrillón Hoyos, aposentado.
Os dois temiam que a beatificação de Romero se transformasse na canonização da Teologia da Libertação, segundo observou Andrea Riccardi, fundador da comunidade de São Egídio, o movimento católico que apoiou e financiou a causa de Romero.