As autoridades tunisianas voltaram a repetir que vão liderar uma "guerra implacável contra o terrorismo", mas, como mostrado no ataque ao Museu Bardo, o país se esforça para definir uma estratégia contra um movimento jihadista crescente.
O ataque, que matou 21 pessoas, incluindo 20 turistas perto do Parlamento é o primeiro a ter como alvo estrangeiros desde o levante de 2011 e ilustra a necessidade de uma visão clara, alertam observadores.
"Não é mais admissível se enganar ou enganar a opinião pública", advertiu o jornal The Daily em um editorial, referindo-se aos "milhares de terroristas que operam na Tunísia, Líbia, Síria e Iraque e (que) foram treinados ou recrutados em nosso país".
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Os tunisianos que partiram para lutar ao lado de grupos jihadistas, entre 2.000 a 3.000, são também uma das maiores ameaças para a segurança interna do país, assim como a proximidade da Líbia, entregue ao caos.
Além disso, há um grupo armado ligado à Al-Qaeda e responsável pela morte de dezenas de soldados na fronteira argelina.
E como acontece depois de cada novo ataque, muitos foram rápidos em apontar dedos acusadores para o partido islâmico Ennahda, que governou a Tunísia com duas formações em uma "troika" do final de 2011 até o início de 2014, e que foi frequentemente acusado de não agir com firmeza contra o movimento jihadista.
Quarta-feira à noite, os manifestantes exigiram no centro de Túnis o julgamento do ex-primeiro-ministro islâmico Ali Laarayedh.
"Sempre que um ataque acontece, é difícil isentar a troika de suas responsabilidades. Seus líderes foram, no mínimo, negligentes. Eles não foram capazes de avaliar a ameaça", estimou o jornal La Presse.
O Ennahda nega categoricamente essas acusações, lembrando que quando esteve no poder declarou o principal grupo salafista do país, o Ansar Ashariaa, "organização terrorista".
Falhas
O atual governo, que garantiu ao assumir suas funções que a luta contra o terrorismo seria uma prioridade, não é imune às críticas. "A batalha travada exige mais rigor e firmeza por parte dos que estão no poder", considerou The Daily.
Nesta quinta-feira, o atual primeiro-ministro Habib Essid admitiu durante uma coletiva de imprensa a existência de "falhas no sistema de segurança." "É necessário mais cooperação entre os militares e as forças de segurança interna", insistiu.
Pouco antes, logo após uma reunião excepcional do chefe de Estado, Essid, dos ministros do Interior e da Defesa e os chefes dos três exércitos, a presidência anunciou uma série de medidas, algumas para reforçar essa cooperação.
"Trata-se de apoiar a cooperação entre os líderes do exército e da segurança dentro das várias forças e corpos" e "revisar a política de segurança em cooperação com a instituição militar", indicou a presidência.
"As estruturas (de segurança) não são adequadas. A cadeia de comando deveria ser eficaz, ou seja, as ordens deveriam fluir", acredita Ahmed Driss, presidente do Centro de Estudos Internacionais e do Mediterrâneo (CEMI), julgando que uma reforma dos serviços de segurança deveria ter sido realiza "há anos."
"Precisamos absolutamente de cooperação (...). Mas é estrutural e as mudanças estruturais levam tempo. Mas neste momento temos pressa", declarou, por sua vez, o pesquisador e membro do Observatório tunisiano de Segurança Global, Chahrazed Ben Hamida.
O ataque de quarta-feira também trouxe a tona "um novo aspecto: os grupos terroristas agora atacam os símbolos da soberania do país, enquanto permaneciam confinados nas montanhas", segundo Driss.
Ainda que a maioria da violência atribuída aos jihadistas realmente ocorra na fronteira com a Argélia, os ataques já aconteceram em centros urbanos, como os assassinatos em 2013 de dois políticos de esquerda, Chokri Belaid e Mohamed Brahmi, e o ataque em maio passado contra a casa do ministro do Interior, em Kasserine (centroeste).