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ONU denuncia possível genocídio dos jihadistas contra yazidis no Iraque

Genebra, Suíça - Os ataques dos jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI) contra a minoria yazidi no Iraque podem constituir um genocídio, afirmou nesta quinta-feira (19/3) um relatório da ONU.

O documento descreve as atrocidades cometidas pelo EI no Iraque - assassinatos, torturas, violações - e conclui que o grupo pode "ter cometido os três crimes internacionais mais graves: crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio", disse em um comunicado o escritório da ONU para os Direitos Humanos.

"O esquema dos ataques contra os yazidis indica a intenção do EIIL (Estado Islâmico no Iraque e Levante, antigo nome do EI) de destruir os yazidis como grupo", acrescentou.

Segundo os investigadores, "isso sugere claramente que o EIIL pode ter realizado um genocídio". Os yazidis, que vivem sobretudo no Curdistão iraquiano, são um grupo étnico que pratica uma religião monoteísta com elementos do cristianismo ou islã. Converteram-se em alvo dos ataques do EI, que os considera hereges.

O documento foi elaborado por investigadores enviados à região pelo Alto Comissariado e se baseia no testemunho de mais de 100 pessoas.

As atrocidades constatadas no relatório podem constituir violações do direito internacional, dos direitos humanos e do direito humanitário, segundo os investigadores. Além disso, algumas delas podem constituir crimes contra a humanidade ou crimes de guerra, reiteram.

Os investigadores também denunciam o tratamento brutal - crimes, torturas, violações e o alistamento forçado de crianças - infligido a outros grupos étnicos, entre eles cristãos, turcomanos, sabeus, mandeus, curdos e xiitas.

O documento, solicitado pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU por iniciativa do governo iraquiano, informa sobre o assassinato brutal e seletivo de centenas de homens e crianças yazidis nas planícies de Nínive (norte) em agosto.

Em muitas aldeias yazidis, a população foi reunida e separada entre homens e mulheres. Os primeiros foram abatidos pelos jihadistas, enquanto as mulheres foram sequestradas como espólio de guerra. "Em alguns casos, aldeias inteiras foram esvaziadas de suas populações yazidis", segundo o documento.

O EI se apoderou de vastos territórios iraquianos após uma grande ofensiva lançada em junho.

Conselho de Segurança
Diante do horror destes crimes, os investigadores pedem ao governo iraquiano que investigue o ocorrido e que integre o estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional (TPI). Também convoca o Conselho de Segurança da ONU a "levar a situação do Iraque ao TPI".


Os investigadores indicam, por sua vez, ter recebido informações que afirmam que as forças de segurança iraquianas e as milícias associadas cometeram graves violações dos direitos humanos durante suas operações contra o EI e que também poderiam ter cometido crimes de guerra.

O documento menciona muitos outros crimes cometidos no Iraque. Em junho, por exemplo, 600 homens detidos em uma prisão de Mossul, em sua maioria xiitas, foram conduzidos em caminhões até um barranco e executados por combatentes sunitas do EI.