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Presidente ucraniano nota 'desescalada' no conflito no leste do país

País recebeu primeira parcela do crédito concedido pelo Fundo Monetário Internacional (FMI)

O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, afirmou nesta sexta-feira que tem observado uma "desescalada" do conflito no leste do país, em entrevista a uma emissora local.

"Posso dizer que não temos a lamentar perdas militares há vários dias, que as vidas de nossos heróis ucranianos são preservadas. Esta é uma clara indicação de que uma escalada gradual está em curso", declarou o presidente ao canal 1%2b1.

Os combates já deixaram mais de seis mil mortos em 11 meses.

Uma relativa calma é observada no leste da Ucrânia há várias semanas, depois que um novo cessar-fogo entrou em vigor em 15 de fevereiro. No entanto, as autoridades ucranianas continuam a denunciar a concentração de forças inimigas ao longo da linha de frente.

As declarações de Poroshenko coincidem com as dos observadores internacionais, para os quais "no geral" a trégua vem sendo mantida, apesar de confrontos esporádicos em vários pontos.

O presidente ucraniano disse que a situação permanece tensa particularmente em duas zonas: ao redor das ruínas do aeroporto de Donetsk, tomado pelos rebeldes em janeiro, e na localidade de Shyrokyne, a cerca de 10 km do porto estratégico de Mariupol. Esta é a última grande cidade na zona de conflito sob controle de Kiev.

No caso de uma grande ofensiva dos separatistas pró-russos, que segundo Kiev e o Ocidente são apoiados pelas forças russas, Poroshenko expressou sua certeza de que os ocidentais apoiariam a Ucrânia, inclusive por meio do fornecimento de armas.

"Se um novo ciclo de agressão contra a Ucrânia foi iniciado, posso garantir que rapidamente obteremos armas letais e uma nova onda de sanções contra o agressor. Vamos agir decisivamente e de forma coordenada", ressaltou.

Na quarta-feira, os Estados Unidos aumentaram sua ajuda militar à Ucrânia, anunciando a entrega de 75 milhões de dólares em equipamentos "não letais", incluindo drones de observação Raven, radares, instrumentos de visão noturna e veículos Humvee. No entanto, os americanos ainda se recusam a fornecer armas "letais", como reivindica Kiev.

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Além disso, enquanto o cessar-fogo parece estar sendo respeitado globalmente, o presidente ucraniano disse que as forças ucranianas estão aproveitando este tempo "para reparar o equipamento danificado" e treinar. "Atualmente, estamos conduzindo exercícios militares intensos", ressaltou. Ele declarou ainda que as forças ucranianas também reforçam sua defesa ao longo da linha de frente, minando as zonas mais expostas a possíveis ataques.

Crédito do FMI
"A Ucrânia começou a receber o dinheiro no âmbito da primeira parcela do crédito do Fundo Monetário Internacional (FMI)", informou o Ministério ucraniano das Finanças, em um comunicado enviado à AFP.

"O dinheiro começou a chegar às contas do Banco central. Toda a quantia chegará até o fim do dia", acrescentou. Sendo assim, US$ 2,2 bilhões serão destinados ao governo, e US$ 2,8 bilhões, para a conta do Banco Central, completou a nota.

O anúncio ocorre no mesmo dia em que a ministra ucraniana das Finanças, Natalie Jaresko, iniciaria as "consultas com os credores" sobre a reestruturação da dívida do país, antes de viajar para Estados Unidos e Grã-Bretanha na semana que vem.

Destinadas a aliviar uma dívida de US$ 15 bilhões em quatro anos, as negociações são cruciais para o sucesso do plano de ajuda internacional para a Ucrânia, cuja economia está à beira da quebra.

Brasil e Rússia dizem não
Em Washington, representantes de Rússia e Brasil no FMI se negaram esta semana a apoiar um pacote de ajuda dessa instituição à Ucrânia por 17,5 bilhões de dólares.

Demonstrando as divergências internas, os representantes desses dois países já se abstiveram de votar na quarta-feira no Conselho Executivo, negando explicitamente seu apoio ao pacote de ajuda de 40 bilhões de dólares do FMI à Ucrânia, informaram fontes que pediram para ter sua identidade preservada.

O plano foi aprovado nessa reunião do conselho, cujas deliberações são secretas.

Um total de 5 bilhões de dólares foi liberado imediatamente para o governo da Ucrânia, país duramente abalado pelo conflito com tropas pró-russas no leste do país.

Nem o representante russo, Alexei Mozhin, nem o do Brasil, Paulo Nogueira Batista, responderam até agora aos pedidos de contato da AFP, e o próprio FMI preferiu não emitir comentários.