O prefeito de Caracas, o opositor Antonio Ledezma, preso desde fevereiro e acusado de conspiração contra o governo federal, denunciou o executivo intolerante e repressivo da Venezuela em uma carta entregue nesta quinta-feira por sua esposa ao ex-chefe de governo espanhol José María Aznar.
Mitzy Capriles, a esposa de Ledezma, também participou de um encontro com políticos espanhóis, onde denunciou a violação sistemática dos direitos humanos na Venezuela.
"Escrevi esta carta na cela em que me encontro prisioneiro de um governo intolerante e repressivo", afirmou Ledezma, 59 anos, detido em uma prisão militar desde que, em 19 de fevereiro, foi tirado de seu gabinete por um comando de assalto do serviço de inteligência venezuelano sob acusação de conspirar contra o governo de Nicolás Maduro.
"O executivo não para de nos perseguir, intensificando a vontade que não se curva de servir aos mais caros e nobres princípios democráticos com os quais comungamos", acrescenta.
Denunciando seu "sequestro", Ledezma transmitiu a Aznar, que governou a Espanha de 1990 a 2004, uma "palavra de agradecimento em nome de todo o povo democrático da Venezuela, por sua solidariedade firme e consequente, em todo este processo cheio de dificuldades".
"As forças políticas e civis, agrupadas na Unidade, continuaremos encarando os despropósitos deste regime que afunda nossa economia e encurrala todos os setores sociais em uma crise espantosa e múltipla", assegura.
Mitzy Capriles, por sua vez, realiza nesta semana uma intensa campanha na cidade francesa de Estrasburgo, sede do Parlamento Europeu, e em Madri, para denunciar a prisão arbitrária de seu marido.
Na sexta-feira, deve ser recebida pelo chefe do governo espanhol do conservador Partido Popular, Mariano Rajoy.
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"O fato de ser dissidente ou opositor em nosso país significa ir para a cadeia", afirmou Capriles em uma reunião com políticos em Madri, onde recebeu o apoio de partidos de direita e de esquerda.
Com Ledezma e Leopoldo López, já estão presos dois dos principais líderes opositores radicais de Maduro, que denunciou em dois anos de governo mais de uma dúzia de planos de assassinato contra ele e golpes de Estado.
Capriles assegurou que a mesma coisa está acontecendo com outros políticos na Venezuela.
"Há uma sistemática violação dos direitos humanos contra o venezuelano cujo maior pecado é ser da oposição ao governo", enfatizou.
A Eurocâmara, por sua vez, expressou novamente nesta quinta-feira sua "profunda preocupação" com a situação política na Venezuela e pediu ao governo de Nicolás Maduro que liberte os opositores detidos e todos os manifestantes pacíficos.
O texto condena a repressão e a violação das liberdades, o que Caracas considera uma "interferência".
A resolução foi aprovada por 384 votos a favor e 75 contrários no plenário de Estrasburgo (leste da França).
Esta é a nona resolução sobre a Venezuela votada na Eurocâmara desde 2007.
Depois de 15 anos de um governo que se define como socialista, a Venezuela atravessa uma crise marcada pela maior inflação do mundo, um déficit fiscal desenfreado, uma cotação do dólar paralelo que supera trinta vezes a cotação mais baixa das três taxas oficiais e uma preocupante carência de alimentos, medicamentos e produtos de higiene.
Maduro enfrenta eleições legislativas cruciais este ano, com uma popularidade ronda apenas os 20%.