A identificação das dez vítimas da colisão entre dois helicópteros em uma região remota da Argentina
seguia difícil nesta quarta-feira pela carbonização dos corpos, enquanto peritos franceses se
somaram à investigação do acidente que matou três astros do esporte da França.
O trágico
acidente custou a vida da célebre navegadora Florence Arthaud, da nadadora Camille Muffat, campeã
olímpica em Londres-2012, e do boxeador Alexis Vastine, medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de
Pequim-2008.
Os dois integrantes do Birô de Investigação e Análise (BEA) francês chegaram
na tarde de quarta-feira a Villa Castelli, um povoado de difícil acesso a 300 km de distância da
capital, La Rioja, onde as duas aeronaves se chocaram em pleno voo na segunda-feira, matando oito
franceses e os dois pilotos argentinos.
[SAIBAMAIS]Os franceses participavam de um
;reality show; de sobrevivência chamado "Dropped" para o canal francês TF1.
"O tema da
identificação dos corpos é muito complicado. Espera-se a chegada de outros peritos pelo estado que
apresentam", disse à AFP Roberto Ludeñas, porta-voz do governo de La Rioja, 1.100 km a noroeste de
Buenos Aires.
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O necrotério de La Rioja tem capacidade para dois cadáveres. Por este motivo, foi
preciso transportar o restante dos corpos para hospitais próximos, explicou o governo local, ao
destacar que familiares das vítimas não chegaram.
"Os familiares sustentam que a
transferência (para a França) tem que ocorrer o mais rápido possível, mas o processo é muito
complexo", destacou Ludeñas.
Suspeita de erro humano
Para
especialistas em aeronáutica entrevistados pela AFP, a origem desta tragédia pode ter sido um erro
do piloto. Os helicópteros, Ecureuils fabricados em 2010, voavam muito perto um do outro e a baixa
altitude antes de bater e cair, segundo imagens gravadas por um cinegrafista amador.
Os
especialistas franceses se somaram aos argentinos, que já examinaram os destroços dos helicópteros
acidentados em busca de provas que expliquem a colisão em pleno voo sobre um campo da montanhosa
província de La Rioja, onde se vê um amontoado de ferro queimado.
O nadador Alain
Bernard, campeão olímpico em Pequim-2008, o patinador Philippe Candeloro, a ciclista Jeannie Longo e
a snowboarder Anne-Flore Marxer ainda estão na Argentina. O jogador de futebol Sylvain Wiltord tinha
voltado à França antes do acidente.
"A gente sempre se pergunta: por que eles e não nós?"
- disse Candeloro à AFP.
Participantes e membros da equipe estão consternados pela morte
de Florence Arthaud, de 57 anos, conhecida como "a noiva do Atlântico".
A navegadora
veterana, que ganhou em 1990 a rota do Rum, morreu ao lado de Camille Muffat, 25 anos, uma das
campeãs com mais títulos da história da natação francesa, e do boxeador Vastine, de 28 anos, e cinco
membros da produção do programa.
"Nosso objetivo é que, aqueles que desejarem, possam
voltar para a França o mais rapidamente possível, respeitando o processo judicial, pois as
testemunhas oculares podem ser interrogadas pela justiça", disse à AFP o cônsul francês Rapha;l
Trannoy, que se deslocou para o lugar do acidente.
Quanto à investigação judicial, o caso
passou às mãos do juiz federal Daniel Herrera.
Um ;reality;
interrompido
As vítimas participavam das filmagens de "Dropped", um ;reality; que
consiste em deixar os participantes em locais inóspitos para que eles tentem, sozinhos, voltar à
civilização com a ajuda de telefones celulares, mas antes que as baterias dos aparelhos
descarreguem.
A produtora do programa anunciou a suspensão imediata das filmagens e a
repatriação de toda a equipe.
"Estamos abalados pela tristeza", resumiu Patrick Kanner,
prefeito da Cidade, da Juventude e dos Esportes, diante de várias centenas de esportistas e
familiares das vítimas, nesta quarta-feira, no Instituto Nacional do Esporte (INSEP) de Paris,
celeiro do esporte de alto rendimento francês.
Os jogadores do Paris Saint-Germain (PSG),
que se classificaram para as quartas de final da Liga dos Campeões, em Londres, enfrentaram o
Chelsea com uma braçadeira preta em sinal de luto.
"Toda a França está de luto", declarou
na véspera o primeiro-ministro francês, Manuel Valls. O presidente François Hollande expressou "seu
estupor e comoção".
As filmagens do programa tinham começado no início de fevereiro em
Ushuaia, na Patagônia argentina (extremo sul), e sua difusão estava prevista para o próximo verão
europeu.