"Arquivada essa triste página, volto para a política para lutar por uma Itália melhor. Graças aos juízes", declarou algumas horas antes, em nota oficial, esse líder indiscutível da direita italiana há pelo menos 20 anos.
O agradecimento aos juízes é incomum por parte do empresário e três vezes premiê, que nunca economizou ataques ao Poder Judiciário em sua longa carreira política.
Na terça-feira, depois de quase dez horas de deliberação, a mais alta instância da Justiça italiana confirmou a absolvição do ex-chefe de governo. Essa decisão definitiva não encerra, porém, outras pendências judiciais de "Il Cavaliere".
Com esse veredito, fica confirmada a sentença do tribunal de Apelação que invalidou, em julho de 2014, a condenação do ex-premiê em primeira instância a sete de anos de prisão, incluindo sua inelegibilidade permanente a qualquer cargo político.
Os juízes consideraram que Berlusconi dizia a verdade, ao alegar que tinha certeza de que a jovem "Ruby" - apelido da exuberante marroquina Karima el Mahroug, então com 17 anos - era maior de idade quando frequentava as noitadas na mansão do ex-premiê em Milão.
"Não negamos que à mansão de Arcore, perto de Milão, foram prostitutas que eram remuneradas por seus serviços. O que Berlusconi não sabia era que Ruby era menor de idade", esclareceu o advogado da defesa Franco Coppi.
Berlusconi, de 78 anos, considerou ter sido submetido a um julgamento "injusto e insensato"."O pesadelo chegou ao fim", comentou seu assessor político Giovanni Toti."O processo Ruby desacreditou Berlusconi e toda a Itália", reagiu o porta-voz da FI na Câmara dos Deputados, Renato Brunetta.
Recuperar prestígio e peso político
Recuperar seu prestígio e peso político não será tarefa fácil, na avaliação de editorialistas e observadores da cena italiana.
Expulso do Senado após ser condenado por fraude fiscal - pena paga com quase um ano de prestação de serviços em um asilo de idosos -, o ex-premiê não pode ocupar cargos públicos até 2016, nem se candidatar ao Parlamento até 2018. Por esse motivo, já apresentou um recurso à Corte Europeia de Direitos Humanos.
"É preciso ver se ainda conta com a força física. Os anos passam para todos", comentou o professor de Ciência Política Franco Pavoncello, da Universidade John Cabot, de Roma.
"A influência de Berlusconi se reduziu. Agora, conta com um pequeno círculo", afirmou o cientista político Marco Tarchi, da Universidade de Florença.
Hegemônica força de centro direita no passado, a FI obteve apenas 16,8% dos votos nas últimas eleições em junho para o Parlamento Europeu, bem atrás de seu rival, o Partido Democrático.