Havana - Cuba anunciou seu apoio incondicional ao aliado venezuelano e criticou as novas sanções de Washington a Caracas, nesta terça-feira, em meio à histórica tentativa de reconciliação anunciada em 17 de dezembro passado e já em andamento.
Em uma declaração, o governo cubano ressaltou seu "incondicional apoio" ao presidente Nicolás Maduro e classificou as sanções a Caracas - divulgadas ontem pelo presidente Barack Obama - como uma medida "arbitrária e agressiva", que "soa pouco crível e desnuda os objetivos dos que a fazem".
O texto é assinado pelo "Governo Revolucionário da República de Cuba", denominação usada pela última vez há dois anos, por ocasião da morte do "melhor amigo" da ilha, o presidente venezuelano Hugo Chávez (1999-2013).
Além disso, Fidel Castro, que está afastado do poder desde 2006 por razões de saúde, aplaudiu a resposta de Maduro. O presidente venezuelano disse que pedirá ao Parlamento de seu país a aprovação de uma "lei habilitante e anti-imperialista", depois de Obama ter dito que a Venezuela é "uma ameaça para a Segurança Nacional" dos Estados Unidos.
"Eu felicito você por seu brilhante e corajoso discurso frente aos planos brutais do governo dos Estados Unidos. Sus palavras entrarão para a História como prova de que a humanidade pode e deve conhecer a verdade", escreveu Fidel, em uma breve mensagem divulgada na imprensa cubana nesta terça.
Cuba: de olho no presente e no futuro
"Cuba tem de sair em apoio a seu aliado, mas não acho que isso afete o processo de aproximação (entre Estados Unidos e Cuba). Este processo tem sua própria dinâmica", disse à AFP um diplomata latino-americano, que pediu para não ser identificado.
Para o cientista político cubano Eduardo Perera, "embora Cuba seja um ator estratégico para Estados Unidos, e Estados Unidos sejam um ator estratégico para Cuba", abandonar a Caracas - o principal aliado político e socioeconômico de Havana nos últimos 15 anos -, não passa pela cabeça do presidente Raúl Castro.
"Era previsível que Cuba mostrasse alguma solidariedade com a Venezuela. Cuba pode estar olhando para os Estados Unidos como uma eventual fonte de mais recursos para deixar para trás sua própria crise latente", disse à AFP o presidente emérito do think tank Inter-American Dialogue, Peter Hakim, que fica em Washington.
"Mas ainda é a Venezuela que paga e ainda é a fonte de boa parte das divisas de que a ilha precisa para comprar tudo. Por isso, acredito que eles [os cubanos] estejam tentando jogar com os dois lados, com um olho no presente e outro no futuro", completou Hakim.
O governo cubano garantiu que "assim como Cuba nunca esteve sozinha, a Venezuela também não estará".
"A gravidade dessa ação executiva pôs em alerta os governos da América Latina e do Caribe, que, em janeiro de 2014 [...] declararam a região como Zona de Paz e repudiaram qualquer ato que atente contra isso, pois acumulam experiências suficientes de intervencionismo imperial em sua História", acrescentou o analista.
Em Havana, os embaixadores dos países da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba) manifestaram nesta terça seu apoio à Venezuela "diante da política agressiva" dos Estados Unidos.
Havana e Washington já fizeram duas rodadas de diálogo para avançar na normalização das relações bilaterais e na reabertura das respectivas embaixadas após meio século de afastamento. Apesar dos assuntos pendentes, ambas as partes reconhecem avanços.
Daqui a um mês, acontece a Cúpula das Américas, no Panamá, que será o primeiro encontro entre Raúl Castro e Barack Obama desde o histórico anúncio.