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Presidente ucraniano confirma retirada de armas pesadas da zona de conflito

Países ocidentais e o governo ucraniano acusam a Rússia de apoiar militarmente os separatistas, o que Moscou nega

Kiev, Ucrânia - O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, confirmou a retirada da maior parte das armas pesadas da zona de conflito no leste da Ucrânia, incluindo no lado separatista pró-russo.

"A parte ucraniana retirou a maior parte de seus sistemas de lançamento de foguetes e de artilharia pesada", em conformidade com os acordos de Minsk, declarou o presidente na segunda-feira (9/3) à televisão pública ucraniana. "Comprovamos que os rebeldes apoiados pela Rússia também retiraram uma parte substancial" de suas armas pesadas, acrescentou.

Os países ocidentais e o governo ucraniano acusam a Rússia de apoiar militarmente os separatistas, o que Moscou nega. O ministro das Relações Exteriores britânico, Philip Hammond, reiterou nesta terça-feira (10/3) suas acusações a este respeito, dizendo que as atividades do presidente russo Vladimir Putin na Crimeia e no leste da Ucrânia "prejudicam" a segurança dos países do leste europeu.

"As ações do presidente Putin - a anexação ilegal da Crimeia e, atualmente, o uso de tropas russas para desestabilizar o leste da Ucrânia - prejudicam os fundamentos da segurança das nações soberanas do leste europeu", declarou Hammond em Londres.

Por sua vez, os Estados Unidos denunciaram nesta terça-feira (10/3) o "reino de terror" na Crimeia e no leste separatista semeado pelos rebeldes e Moscou.

"Mesmo a Ucrânia construindo uma nação pacífica, democrática e independente em 93% de seu território, a Crimeia e o leste da Ucrânia estão sob o controle de um reino de terror", criticou a secretária de Estado Adjunto para a Europa, Victoria Nuland, condenando a "ocupação ilegal" da Crimeia e a "terrível violência e saques", que seriam cometidos pela "Rússia e suas marionetes separatistas".

O discurso americano coincide com os preparativos da Otan para importantes exercícios militares nos países bálticos.

A Otan anunciou na segunda-feira que os Estados Unidos começaram a implantar um contingente de 3.000 soldados, que permanecerá durante três meses nos países bálticos, cujos governos estão preocupados com o papel da Rússia na crise ucraniana, especialmente se tratando da Letônia, Lituânia e Estônia, bem como a Ucrânia, todas ex-repúblicas soviéticas.

Na Ucrânia, Poroshenko afirmou que o cessar-fogo em vigor desde 15 de janeiro tem sido respeitado globalmente, apesar de confrontos esporádicos.

"Ao longo dos 485 km da linha de frente, não foram registrados disparos de artilharia, com exceção de algumas localidades. Em contrapartida, foram utilizadas armas de fogo e granadas" com maior frequência, declarou o presidente à televisão.

Calma relativa
O conflito no leste da Ucrânia entre os separatistas e as forças leais a Kiev já deixou mais de 6.000 mortos, a maioria civis, em 11 meses.

De acordo com o líder ucraniano, 64 soldados ucranianos morreram desde 15 de fevereiro, apesar do cessar-fogo, que faz parte dos acordos de paz assinados em 12 de abril, em Minsk, após a mediação da Alemanha, França e Rússia.

Na segunda-feira, depois de vários dias de relativa calma, Kiev acusou os separatistas pró-russos de lançar um ataque com armas pesadas perto do porto estratégico de Mariupol, ao sul da linha de frente, um incidente que ilustra a fragilidade da trégua.

Os militares ucranianos afirmaram que sofreram um ataque na cidade de Shirokin, 10 km a leste de Mariupol, última grande cidade controlada por Kiev no leste.

Neste contexto, o comandante das forças da Otan na Europa, Philip Breedlove, alertou para a "militarização" da Crimeia, península ucraniana anexada pela Rússia há um ano.



E o ministro das Relações Exteriores da Polônia , Grzegorz Schetyna, lamentou que a Suíça vai vender sofisticadas redes de camuflagem à Rússia, em meio ao conflito na Ucrânia, numa altura em que os países ocidentais impuseram sanções a Moscou.

Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Garcia-Margallo, disse, também nesta terça-feira, que o seu país está sofrendo economicamente por causa das sanções adotadas pela UE contra a Rússia, que "não beneficia ninguém."