A ideia de uma Europa energética receberá impulso nesta quarta-feira em uma cúpula franco-lusa-espanhola em Madri destinada a unir a península ibérica e suas importantes energias renováveis com as redes europeias.
Preocupada com sua grande dependência da Rússia para seu abastecimento e com os gastos com energia, a Comissão Europeia apresentou no dia 25 de fevereiro uma estratégia para criar um mercado integrado de energia.
Seus objetivos: tornar os abastecimentos mais seguros por meio da solidariedade entre os Estados-membros, rebaixar os preços graças à concorrência, e reduzir a emissão de gases de efeito estufa desenvolvendo as energias renováveis.
Uma semana depois, o presidente francês François Hollande se reúne em Madri com os chefes do governo português, Pedro Passos Coelho, e espanhol, Mariano Rajoy, para concretizar essa estratégia desenvolvendo conexões para superar o isolamento de seus países em relação à Europa.
Essas interconexões permitirão exportar energias renováveis quando houver picos de produção e também importar eletricidade quando a produção cair por falta de vento ou de sol.
A rede elétrica de Portugal, que cobre mais de 25% de seu consumo com energias renováveis, está bem conectada com a da Espanha e estará ainda melhor em 2016 com a abertura de uma nova linha de alta tensão. Lisboa pretende se tornar uma exportadora de energia renovável.
Menos dependência do gás russo
A Espanha, por outro lado, está mal conectada com a França e se queixa disso há anos. Esse isolamento impede o país de rentabilizar os investimentos em energias renováveis (17% de sua produção) e em gás natural, exportando na Europa.
"Se tivesse uma interconexão entre a Espanha e o resto da Europa, menor seria a vulnerabilidade e a dependência do continente europeu em relação ao gás da Rússia", disse o ministro da Indústria e Energia espanhol, José Manuel Soria, à rádio pública espanhola.
Madri conseguiu em 2014 que seu antigo ministro da agricultura Miguel Arias Cañete fosse nomeado como comissário europeu de Energia para fazer o tema avançar.
Durante muito tempo a Espanha considerou que a França quer proteger sua indústria nuclear e seus monopólios públicos de distribuição da concorrência estrangeira.
Assim, foram necessários vários anos para dobrar a capacidade de uma linha de alta tensão entre a Catalunha e a região francesa de Perpignan. Inclusive, depois de sua inauguração na semana passada, a capacidade de interconexão da Espanha só representa 3% de sua capacidade de produção elétrica, bem abaixo da meta de 10% fixada pela Comissão Europeia para 2020.
Financiamento europeu
Os dois países concordam sobre a necessidade comum de encontrar financiamento europeu para projetos de importância estratégica para a Europa, informaram as partes.
"A crise ucraniana reforçou a necessidade de uma solidariedade energética europeia", explicou a presidência francesa.
Madri, Lisboa e Paris esperam poder se beneficiar do plano de investimentos estratégicos do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, que também estará na reunião e que espera mobilizar 315 bilhões de euros em investimentos públicos e privados em até três anos.
A cúpula dará aval a um projeto de cabo submarino através do golfo de Vizcaya e tentará garantir seu financiamento. A Espanha também espera um projeto de conexão através dos Pirineus.
Madri quer melhorar sua conexão com a rede de gasodutos com a França e o resto da Europa.
A Espanha quer ser reconhecida como uma plataforma energética de importância estratégica para a Europa com o gás importado da Argélia por gasoduto e seus seis terminais para o gás natural liquefeito importado de outras partes do mundo, explica Gonzalo Escribano. A França insiste em estudar a viabilidade dos projetos, entre eles a de um gasoduto com a Espanha.