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Espanha e Portugal pedem que Tsipras não busque bodes expiatórios

Nem mesmo a tensão durante as negociações entre Alemanha e Grécia haviam feito o tom subir de tamanha forma

Os governos de Espanha e Portugal responderam neste domingo ao primeiro-ministro grego Alexis Tsipras, que os acusa de se unirem contra ele, e o criticaram por buscar bodes expiatórios para as dificuldades internas.

No primeiro embate público com seus colegas europeus desde que chegou ao poder no final de janeiro, Tsipras, líder da esquerda radical acusou neste sábado os governos conservadores de Madri e Lisboa de serem intransigentes com as negociações sobre a dívida grega por razões eleitorais.

Nem mesmo a tensão durante as negociações entre Alemanha e Grécia haviam feito o tom subir de tamanha forma.

"O partido da esquerda radical (Syriza) decidiu que a culpa dos problemas na Grécia recai no governo de Portugal e no governo espanhol", ironizou neste domingo o presidente espanhol, Mariano Rajoy.

"Não somos responsáveis pela frustração da esquerda radical grega, que prometeu o que não podia cumprir, como ficou provado", garantiu Rajoy, falando para uma plateia de partidários em Sevilha.

"Buscar um inimigo fora de casa é um truque que já vimos diversas vezes ao longo da história, mas isso não resolve os problemas", acrescentou. "A única maneira é ser sério, é não prometer o que você sabe que não pode cumprir", insistiu.

O tom foi o mesmo em Portugal, onde o porta-voz do partido governista de centro-direita (PSD), Marco Antonio Costa, garantiu que as acusações de Tsipras "são totalmente absurda e (...) tristes, vindas de um líder que deveria estar à altura de suas responsabilidades".

As declarações do premiê grego "são muito graves, lamentáveis e falsas", e as "dificuldades internas vividas pelo Syriza não são suficientes para justificar" rais afirmações, disse o porta-voz após uma reunião do governo no Porto.

O compromisso concluído por Tsipras em Bruxelas para prolongar a ajuda europeia à Grécia foi questionado dentro de seu partido e já provocou manifestações pelas ruas do país.

No sábado, o chefe do governo helênico acusou Espanha e Portugal de querer levar a Grécia a uma "asfixia financeira" durante as negociações.

"Estas potências não querem que o exemplo grego influencie em outros países, sobretudo na perspectiva das eleições na Espanha", previstas para novembro, afirmou Tsipras.

A esquerda radical espanhola, encarnada pelo Podemos, está em pleno auge nas pesquisas eleitorais. O partido, aliado do Syriza, critica o governo de Rajoy por ter imposto a austeridade à Espanha - cedendo às pressões de Bruxelas e Berlim.

Em Portugal, a oposição socialista também critica o governo conservador, que não soube resistir aos "diktats" da Alemanha.

Os governos espanhol e português responderam às críticas e protestaram oficialmente junto à União Europeia.

O primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, "expressou sua perplexidade em comunicado enviado às instituições europeias por vias diplomáticas", informou à AFP um de seus porta-vozes.

Madri pediu ao Conselho Europeu e à Comissão Europeia que "condenem as declarações" de Atenas, segundo uma fonte do governo espanhol.