A capacidade executiva deste oncologista, empresário e maçom de 75 anos ficou demonstrada poucos dias após sua vitória no segundo turno sobre o centro-direitista Luis Lacalle Pou - com 53,6% dos votos - ao anunciar seu gabinete sem consultar Mujica ou respeitar quotas políticas.
Neste domingo declarou que durante a noite anunciará as primeiras disposições de seu governo, que incluirão melhorar a gestão de governo, criar um sistema nacional de cuidados e um imposto às grandes extensões de terra.
Mujica, um ex-guerrilheiro que deixa o cargo com uma popularidade superior a 60%, tornou-se o senador mais votado, e continuará atuando na política interna nos próximos cinco anos.
"A fama de Mujica pesa sobre Vázquez", comentou à AFP o doutor em Ciência Política Jorge Lanzaro. "É um contraste permanente, uma rivalidade bastante surda e às vezes não tão surda, que foi alvo de algumas expressões críticas por parte de Vázquez sobre a forma de Mujica de falar e até de se vestir".
Esta linguagem coloquial, somada a um forte discurso anticonsumista e a um espírito negociador, que junto à legalização da maconha atraiu as atenções do mundo ao ex-guerrilheiro, contrasta com o estilo sóbrio e a voz de comando que Vázquez reivindica.
Mujica "é uma figura importantíssima no contexto nacional e internacional", admitiu Vázquez neste domingo, afirmando que sempre teve "um relacionamento muito fraterno e vai continuar sendo igual".
"Tem que ser um ponto de referência de primeira ordem", sustentou.
Vários presidentes latino-americanos - entre eles Dilma Rousseff, a chilena Michelle Bachelet e o cubano Raúl Castro - chegaram a Montevidéu para acompanhar a cerimônia de troca de comando, que não contará com a presença da presidente argentina Cristina Kirchner, cujo governo teve atritos com o uruguaio.
O vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, cancelaram sua participação no último minuto.