Kandahar, Afeganistão - Homens armados sequestraram cerca de trinta muçulmanos da minoria xiita, alvo de extremistas sunitas, quando viajavam de ônibus no sul do Afeganistão, anunciaram nesta terça-feira (24/2) à AFP autoridades locais. Os passageiros, membros da etnia hazara, foram sequestrados segunda-feira (23/2) à noite no distrito de Shahjoy, na província de Zabul (sul), indicou à AFP o governador do distrito, Abdul Khaliq Ayoubi.
"Um motorista viu um grupo de homens vestidos com o uniforme do exército afegão e o rosto coberto com um capuz preto, fazendo gestos para que o ônibus parasse. Ele pensou se tratar de soldados e parou o veículo", relatou Nasir Ahmad, gerente da companhia de transportes Paima Ghazni, proprietária dos dois ônibus atacados. "Os homens armados levaram 30 passageiros hazaras com eles", indicou Ahmad, acrescentando que apenas os homens foram levados, sendo poupadas as mulheres e crianças.
De acordo com este funcionário, os sequestradores estavam conversando entre si em uma "língua estrangeira", o que foi confirmado por sobreviventes, segundo Abdul Khaliq.
Uma passageira, que estava a bordo de um dos ônibus, explicou à AFP, sob condição de anonimato, o que aconteceu durante o sequestro.
"Nós voltávamos do Irã e estávamos indo em direção à província de Daikundi (região central do Afeganistão, predominantemente hazara). Os homens armados estavam de pé na estrada e usavam uniformes e os seus rostos estavam cobertos. Pararam dois ônibus e levaram 19 homens hazaras de um e 12 do outro", disse ela.
A passageira, então, contou que "agentes da polícia chegaram, mas disseram que não podiam caçar os sequestradores, argumentando que precisavam da ordem de Cabul".
"A polícia está fazendo todo o possível para garantir a libertação do grupo", declarou o porta-voz do ministério afegão do Interior, Sediq Sediqqi, que não quis fornecer mais detalhes.
Em um comunicado divulgado na tarde desta terça-feira, o ministério do Interior assegurou que o ministro Noor-Ul-Haq Uloomi "instruiu as autoridades competentes a tomar medidas urgentes, e que eles façam o seu melhor para (obter) a libertação dos sequestrados. "
Os membros da minoria xiita hazara, com feições asiáticas o que faz com que sejam facilmente identificáveis por extremistas sunitas, são regularmente alvos de ataques na região e também no vizinho Paquistão.
Em 2013, cerca de 200 xiitas hazaras foram mortos em dois ataques em Quetta, capital da província paquistanesa do Baluchistão (sudoeste), na fronteira com o Afeganistão.
O sequestro de segunda-feira à noite dos 30 xiita hazaras ainda não foi reivindicado, mas poderia ter sido perpetrado por salteadores de estradas exigindo um resgate, uma milícia local ou um grupo extremista melhor organizado, num momento em que as autoridades temem a disseminação do grupo Estado Islâmico (EI), e de seu programa anti-xiita na região.
Uma dúzia de ex-comandantes talibãs afegãos paquistaneses anunciaram nos últimos meses sua união com o EI, que proclamou um califado sobre parte da Síria e do Iraque, e lealdade a seu líder Abu Bakr al-Baghdadi.
Mas esse fenômeno de adesão de talibãs ao EI está até o momento limitado ao Paquistão e Afeganistão, onde os rebeldes islâmicos são historicamente próximos da Al-Qaeda, rival do EI na frente jihadista internacional.