Beirute - O grupo jihadista Estado Islâmico (EI) atacou duas cidades cristãs sob controle das forças curdas na região de Hassake e sequestrou pelo menos 90 cristãos assírios, anunciou nesta terça-feira o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Esta é a primeira vez que o grupo extremista sequestra um número tão grande de cristãos na Síria. No Iraque, o EI raptou milhares de soldados e membros de minorias, incluindo yazidis.
"Na segunda-feira, o EI atacou Tal Shamiran e Tal Hermuz, duas localidades assírias da província de Hasake, e levou 90 moradores", afirmou à AFP o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman.A ONG não sabe para onde foram levados os reféns, nem se mulheres e crianças estão entre eles.
Cerca de 30.000 assírios viviam na Síria antes do conflito que devasta o país desde março de 2011, a maioria na província de Hassake. Esta comunidade representa uma pequena porcentagem de cristãos do país, estimados em 1,2 milhão antes da guerra.
Os assírios são cristãos nestorianos, uma corrente do cristianismo condenada pelo concílio de Éfeso no ano 431 pelas divergências sobre a natureza de Cristo. Também estão muito presentes no Iraque.
Parte da província de Hasake está controlada pelos curdos e outra pelos jihadistas sunitas do EI. As forças pró-governo sírias estão presentes na cidade de mesmo nome.
As unidades de proteção do povo curdo (YPG), a principal milícia curda síria, realizam uma ofensiva na região e assumiram o controle de 24 vilarejos com o objetivo de tomar a localidade de Tal Hamis, em poder dos jihadistas e alvo de bombardeios da coalizão liderada pelos Estados Unidos.
As YPG também iniciaram uma ofensiva na província de Raqa, reduto do EI mais ao oeste, e assumiram o controle de 19 vilarejos.
Igreja destruída
Neste contexto, intensos combates eclodiram na segunda-feira entre o EI e as YPG pelo controle de Tal Chamiram e Tal Hermoz, bem como na cidade vizinha de Tal Tamr, que permanece sob controle curdo.
Após os confrontos, os jihadistas incendiaram parte de uma igreja perto de Tal Tamr e, em seguida, se instalam no interior do prédio, indicou a Comissão Geral da Revolução Síria, uma rede de ativistas.
A coalizão internacional que combate o EI bombardeou o edifício, destruindo e matando jihadistas em seu interior, segundo a mesma fonte.
O EI destruiu vários locais de culto cristãos nos territórios sob o seu controle e exige o pagamento de uma taxa dos cristãos em seu califado auto-proclamado. Ele chama os cristãos de "cruzados".
Acusado pela ONU de realizar crimes contra a humanidade, o grupo tem multiplicado os abusos nas áreas que controla: sequestros, crucificações, decapitações, etc.
Na semana passada, a filial líbia do EI divulgou um vídeo no qual o grupo executa 21 cristãos, em sua maioria egípcios.