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EUA e UE pedem fim dos combates na Ucrânia, onde trégua está ameaçada

Em Devaltseve, bombardeada com lança-foguetes múltiplos, havia 5 mil civis bloqueados, enquanto a entrega de pão foi suspensa por causa dos combates, segundo a prefeitura

A União Europeia e os Estados Unidos pediram, nesta segunda-feira, a suspensão total dos combates no leste da Ucrânia, onde as hostilidades entre o exército ucraniano e os rebeldes pró-russos continuam apesar da manutenção de uma trégua cada vez mais frágil.

"Parece que o cessar-fogo se mantém de forma geral, apesar de um certo número de incidentes", declarou a porta-voz do serviço diplomático da União Europeia, Maja Kocijancic. "É um imperativo que o cessar-fogo seja implantado plenamente", acrescentou.

Em Washington, o Departamento de Estado americano pediu à Rússia e aos separatistas que Moscou apoia que suspendam "imediatamente" os ataques no leste da Ucrânia, expressando sua grave preocupação com as violações ao cessar-fogo.

"Os Estados Unidos estão gravemente preocupados com a situação que se deteriora nos arredores de Debaltseve, no leste da Ucrânia", disse a porta-voz do Departamento de Estado, Jen Psaki, em um comunicado. "Nós pedimos à Rússia e aos separatistas que ela apoia que suspendam todos os ataques imediatamente".

O exército ucraniano e os rebeldes se acusavam mutuamente, nesta segunda-feira, de violar a trégua que entrou em vigor na madrugada de sábado para domingo. Os dois grupos afirmaram que, em tais condições, não retirarão as armas pesadas da frente, ao contrário do previsto nos acordos de Minsk.

"A situação é frágil. Não se podia esperar outra coisa", reconheceu nesta segunda-feira a chanceler alemã, Angela Merkel que, junto com o presidente francês, François Hollande, conseguiram fechar um acordo após uma sessão de negociações maratônica na semana passada com os presidentes russo e ucraniano.

Mas por mais frágil que seja, a nova trégua "é a única opção para a esperança de uma resolução de conflito", afirmou a chefe de diplomacia europeia, Federica Mogherini, em coletiva de imprensa em Madri.

"Nosso papel nestes dias é crítico, crucial e consiste não só em esperar para ver se o acordo se mantém, mas em fazer tudo o possível para que seja aplicado", acrescentou.

No terreno, embora os observadores internacionais assegurassem que a trégua tinha sido amplamente respeitada, prosseguiam os bombardeios em Debaltseve, uma cidade estratégica que liga por estrada de ferro os redutos separatistas de Donetsk e Lugansk, assim como em Chirokin, a quinze quilômetros de Mariupol, na parte sul da linha de frente. Nesta última, cinco soldados ucranianos morreram desde o início do cessar-fogo.

Retirada do armamento pesado

Neste contexto, a retirada do armamento pesado não é contemplada por nenhum dos dois lados. "Mas por enquanto não se trata de retirar as armas pesadas. Como podem retirar as armas se os rebeldes tentam nos atacar com tanques e atiram contra nós constantemente?", questionou o porta-voz Vladislav Selezniov.

Uma autoridade militar separatista afirmou que os rebeldes tampouco vão retirar as armas pesadas. Isto "só pode se realizar sob certas condições e, em particular, o cessar de todos os disparos", disse Eduard Basurin, que acusou o exército ucraniano de atirar contra o aeroporto de Donetsk.

Os acordos assinados esta quinta-feira em Minsk previam um cessar-fogo, que entrou em vigor no sábado às 22H00 GMT (20H00 de Brasília) e a retirada das armas pesadas da linha de frente, nesta segunda-feira na mesma hora.

Em Devaltseve, bombardeada com lança-foguetes múltiplos, havia 5 mil civis bloqueados, enquanto a entrega de pão foi suspensa por causa dos combates, segundo a prefeitura.

Os acordos de Minsk, fechados após árduas negociações, das quais participaram Ucrânia, Rússia, Alemanha e França, tentam por um fim a um conflito que deixou quase 5.500 mortos em 10 meses.

Novas sanções

Enquanto cresce a tensão no leste da Ucrânia, a União Europeia publicou nesta segunda uma nova lista negra de pessoas e entidades punidas por seu papel no conflito, na qual aparecem dois vice-ministros russos da Defesa, Arkadi Bajin e Anatoli Antonov.

Na lista estão outros três russos, entre eles dois deputados, e 14 altos cargos políticos e militares das autoproclamadas repúblicas de Donetsk e de Lugansk. A UE bloqueará suas contas e não poderão entrar em território comunitário.

Os ministros europeus de Relações Exteriores decidiram estas novas sanções no mês passado, mas foi adiada a sua aplicação para não prejudicar as negociações de paz da quinta-feira passada em Minsk.



"Destacamos a incoerência e o caráter ilógico [das sanções]. Cada vez que há uma esperança de solucionar a crise ucraniana interna, Bruxelas se apressa a introduzir novas restrições antirrussas", reagiu o ministério russo das Relações Exteriores, em um comunicado.

A Rússia negou várias vezes ter enviado tropas e armas pesadas aos separatistas pró-russos, apesar das acusações dos países ocidentais. A UE e os Estados Unidos impuseram sanções a Moscou, o que, juntamente com a queda no preço do petróleo, contribuiu para afundar a economia russa, que entrou em recessão.