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ONU adverte que desaparecimentos são 'generalizados' no México

A audiência aconteceu no contexto do impacto nacional e internacional pelo desaparecimento de 43 estudantes em setembro

Genebra - O México enfrenta uma situação de "desaparecimentos generalizados" em grande parte de seu território, advertiu nesta sexta-feira um comitê das Nações Unidas nas conclusões de um informe sobre o país, no qual pede medidas concretas, como um registro preciso das vítimas.

O Comitê contra o Desaparecimento Forçado da ONU assegurou que a informação que recebeu do México durante sua primeira audiência, realizada no início de fevereiro, "ilustra um contexto de desaparições generalizadas em grande parte do território do Estado, muitas das quais poderiam ser qualificadas como desaparições forçadas".

A audiência aconteceu no contexto do impacto nacional e internacional pelo desaparecimento de 43 estudantes em setembro em Iguala (sul), estes presumidamente acabaram sendo assassinados por narcotraficantes ligados a policiais.

Este crime gerou indignação sem precedentes no México desde que a violência começou com o lançamento de uma ofensiva militar contra os cartéis em 2006. Desde esse ano, foram registrados mais de 22.000 desaparecimentos e se multiplicaram as denúncias de abusos de oficiais.

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Em suas conclusões, o comitê salientou sua preocupação pela falta de estatísticas precisas sobre o número de vítimas de desaparição forçada no México e pediu a seu governo a criação de "um registro único de pessoas desaparecidas a nível nacional".

Este registro, demandado por grupos civis que recorreram à Genebra, deve servir para determinar se as desaparições foram realizadas por agentes do Estado, completa o Comitê. "Se o Estado não sabe quantas pessoas desapareceram é realmente difícil estabelecer estratégias para a busca" e o processamento dos responsáveis, disse o relator Luciano Hazan na apresentação das conclusões.

O comitê - integrado por dez especialistas independentes - também recomendou ao México criar uma "unidade fiscal especializada em investigar desaparições forçadas", que seja dependente da promotoria geral e que dê respostas também para as desaparições de imigrantes.

Quatro meses depois do crime de Iguala, a promotoria mexicana segue recebendo críticas por sua investigação da desaparição dos 43 estudantes de uma escola de magistério da próxima comunidade de Ayotzinapa.

Este caso "ilustra os sérios desafios que enfrenta o Estado em matéria de prevenção, investigação e sanção das desaparições forçadas e busca das pessoas desaparecidas", salientou Comitê da ONU.

Até agora, só puderam ser identificados os restos mortais de um dos 43 estudantes, por isso os pais insistem que os outros continuam vivos.