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Nova tragédia ligada ao futebol deixa 19 mortos no Egito

Primeira partida do campeonato nacional resultou em confrontos entre a polícia e torcedores

Três anos depois da tragédia de Porto Said, 19 pessoas morreram nos confrontos de domingo (08/02) no Cairo entre a polícia e torcedores de futebol, antes da primeira partida do campeonato egípcio disputada com público desde 2012, segundo o balanço oficial revisado. "Dezenove pessoas morreram, 22 policiais ficaram feridos e 18 agitadores foram detidos", anunciou um porta-voz do ministério do Interior. O balanço anterior citava 22 mortes. Leia mais notícias em Mundo "Os 19 falecimentos foram provocados por uma correria. Nenhuma vítima fatal tinha ferimentos de bala", afirmou à AFP Khaled al-Jatib, diretor dos serviços de emergência do Cairo. "Muitas vítimas tinham o pescoço quebrado", completou. Os distúrbios começaram na entrada de um estádio na zona nordeste da capital egípcia quando os torcedores do clube Zamalek tentaram invadir o local. Polícia acusada A partida do Zamalek contra o Enppi era disputada com a presença do público e não com portões fechados, como acontece com a maioria dos jogos no Egito desde os violentos distúrbios ocorridos em um estádio de Port Said em 2012. Em fevereiro daquele ano, torcedores do Al Masry atacaram simpatizantes do Al-Ahly e os confrontos terminaram com 74 mortos e centenas de feridos, em duelo muito tenso por conta das tensões políticas que se somaram à rivalidade esportiva. A torcida do Al Ahly, clube mais popular do país, sempre foi na linha de frente na revolução da Primavera Árabe, enquanto boa parte dos fãs do Al Masry apoiavam o regime de Hosni Mubarak. A polícia foi acusada de fechar os olhos diante do "massacre" para se "vingar" de grupos que tinham contribuído a derrubar Mubarak em 2011. O drama já tinha levado as autoridades do país a suspender o campeonato local e meses depois a liberar apenas partidas disputadas de portões fechados. Para a partida de domingo, o número de torcedores autorizados no estádio era limitado a 10.000, mas a multidão do lado de fora superou rapidamente este número e tentou derrubar os portões do estádio e escalar os muros, segundo o ministério do Interior. Os torcedores, integrantes do grupo 'Ultra White Knight', enfrentaram a polícia, que usou gás lacrimogêneo. De acordo com oficiais, os torcedores responderam com material pirotécnico. O governo respondeu rapidamente e decidiu suspender o campeonato da primeira divisão por tempo indeterminado. 'Massacre planejado' Testemunhas e torcedores acusaram a polícia de ter provocado o confronto, por ter usado gás lacrimogêneo de forma abusiva, diante de pessoas que estavam encurraladas na frente de uma das entradas do estádio. Ibrahim, que estava presente no local, disse à AFP que os policiais tinha reagido a um sinalizador lançado por um torcedor. "O gás asfixiou eles, provocando a correria", relatou. "Foi um massacre planejado. A estrutura metálica na qual muitos morreram tinha sido instalada na véspera do jogo", denunciaram os Ultras White Knights num comunicado. A Federação Egípcia de Futebol restabeleceu a proibição da presença do público nos jogos. A medida havia sido suspensa parcialmente em dezembro. Apesar da gravidade da situação, a partida foi disputada, o que agravou a revolta dos torcedores. O jogador Omar Gaber, zagueiro do Zamalek, foi suspenso pelo clube por se recusar a entrar em campo. A justiça determinou a abertura de uma investigação. Depois do anúncio, os torcedores bloquearam uma estrada de acesso ao estádio e incendiaram três viaturas policiais. Em dezembro, as autoridades egípcias decidiram autorizar o retorno de um número limitado de espectadores a alguns jogos do campeonato da primeira divisão, que recomeçou no domingo.