Os milicianos xiitas anunciaram neste sábado (07/02) a criação de uma Alta Comissão de Segurança no Iêmen para consolidar seu controle no país, um dia depois de tomar o poder.
Na sexta-feira, (06/02), os rebeldes conhecidos como huthis dissolveram o Parlamento iemenita e criaram novas instâncias dirigentes neste país sem executivo há duas semanas, medidas denunciadas como golpistas por manifestantes e criticadas pelos Estados Unidos e pela ONU.
[SAIBAMAIS]No comunicado divulgado neste sábado, os huthis declararam que os ministros da Defesa e do Interior do governo demissionário estão nesta comissão de segurança, que "dirigirá os assuntos do país até a colocação em andamento de um Conselho Presidencial".
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As nomeações foram recebidas com desconfiança, sobretudo por simpatizantes do presidente Abdi Rabbo Mansour Hadi e pela comitiva do ministro da Defesa, Mahmud al-Subaihi, que acredita que ele - próximo ao presidente - tenha sido forçado a aceitar o cargo. "Perdemos todo contato com ele e tememos por sua vida", disse à AFP o chefe de gabinete do ministro, Abdel Aziz Mansur.
Na sexta-feira, em uma declaração constitucional, a milícia anunciou a criação de um Conselho Nacional de 551 membros para substituir o Parlamento, dissolvido após meses de distúrbios. O futuro Conselho Presidencial, que será eleito por este Conselho Nacional, deverá formar um governo de competência nacional para um período de transição fixado em dois anos.
Após o anúncio deste sábado, e em desafio à nova autoridade em Sanaa, uma explosão na entrada sul do palácio presidencial, controlado por estes milicianos desde 20 de janeiro, feriu um policial e um civil, informaram várias testemunhas. As lojas do setor fecharam a pedido dos milicianos, que buscavam outros explosivos, segundo testemunhas.
Simultaneamente, os rebeldes xiitas voltaram a disparar para o ar munição real para dispersar, como no dia anterior, muitos manifestantes que protestavam em Sanaa e em outras cidades do país contra o que classificam de golpe de Estado. Segundo testemunhas e ativistas, ocorreram ao menos 17 detenções na capital.
O Iêmen, país com maioria sunita da Península Arábica e aliado dos Estados Unidos na luta contra a Al-Qaeda, está afundado em uma profunda crise política desde a renúncia, no dia 22 de janeiro, do presidente Hadi e de seu governo dois dias após a tomada do palácio presidencial pelos rebeldes xiitas.
As monarquias petrolíferas do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) denunciaram neste sábado um golpe de Estado por parte das milícias xiitas e, relacionando sua própria segurança à do Iêmen, advertiram que tomarão "todas as medidas necessárias para defender seus interesses".
A manobra dos huthis para tomar o poder ocorreu um dia após o fracasso das negociações, auspiciadas pelo emissário da ONU no Iêmen, Jamal Benomar, para alcançar uma saída da crise.
O enviado, que deixou precipitadamente o país após a "declaração constitucional" dos rebeldes na sexta-feira, retornou neste sábado a Sanaa onde, segundo a agência oficial, Saba, deve se reunir com o "Comitê Revolucionário" e com "formações e partidos políticos".
O espectro político iemenita se divide entre os que denunciaram a ação dos huthis como um golpe contra a legalidade constitucional e os que ainda não reagiram oficialmente.