Com as cruéis imagens do piloto militar jordaniano sendo queimado vivo dentro de uma jaula, o grupo Estado Islâmico (EI) decidiu midiatizar ao máximo um castigo inédito para enviar uma mensagem de terror dissuasivo aos seus inimigos árabes e ocidentais.
Após as decapitações, os apedrejamentos e as crucificações realizadas no Iraque e na Síria, a organização deu mais um passo no caminho do horror, mostrando em um vídeo Maaz al-Kassasbeh transformado em uma bola de fogo.
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Este "vídeo chocante com uma punição inédita" tem por objetivo aterrorizar a coalizão internacional dirigida pelos Estados Unidos, que lançam ataques contra o EI no Iraque e na Síria desde agosto de 2014, e na qual participa a Jordânia, opinou Romain Caillet, especialistas dos movimentos jihadistas.
O Estado Islâmico disse à coalizão: "Seus homens terminarão em vídeos ainda mais atrozes, que traumatizarão duravelmente a opinião pública", acrescentou o especialista francês. Nenhum chefe de Estado "tem vontade de ver um jovem soldado terminar desta maneira", disse.
"Trata-se de uma enorme oportunidade que o Estado Islâmico tem de infligir o máximo de dor à coalizão, em particular aos países muçulmanos" que "ajudam os Estados Unidos", destacou Hassan Hassan, do Delma Institute, com sede em Abu Dhabi.
Segundo a televisão oficial jordaniana, a morte do piloto Maaz al-Kassasbeh, capturado no fim de dezembro após a queda de seu avião no norte da Síria, ocorreu no dia 3 de janeiro. Isso demonstra que o EI não pensava em utilizar o prisioneiro jordaniano como moeda de troca, mas como um exemplo do destino particularmente horrível que os inimigos do grupo sofrerão.
No fim de janeiro, o Estado Islâmico havia exigido a libertação de uma jihadista iraquiana condenada à morte na Jordânia sob a ameaça de matar o piloto e um refém japonês. No entanto, o EI nunca havia provado que o piloto estava vivo.
"O EI quis aterrorizar a Força Aérea jordaniana e anunciar que qualquer piloto que cair em suas mãos terá o mesmo destino", disse à AFP Hicham al-Hachimi, especialista em questões estratégicas baseado no Iraque. No vídeo, de 22 minutos de duração, o Estado Islâmico mostra imagens de crianças feridas nos hospitais da Síria, vítimas dos bombardeios da coalizão de "cruzados".
Para Thomas Pierret, especialista em Islã contemporâneo, trata-se, sobretudo, de uma escalada midiática por parte do grupo, que busca inovar para chamar a atenção da opinião pública. "O EI utilizou tanto as decapitações que acabou banalizando-as. Queimar um prisioneiro é, portanto, uma forma de reativar" a circulação nas redes, indica este professor da universidade de Edimburgo.
Para Pierret, o EI busca projetar em relação ao adversário uma lei do talião metafórica. "Como colocar em prática o ;olho por olho, dente por dente; com alguém que bombardeia a partir do céu? Colocar fogo é, em certo sentido, uma resposta ao ;fogo do céu; que o bombardeiro F-16 representa", afirma.
Para justificar o modo de execução, o vídeo invoca o teólogo radical do século XIII Ibn Taymiya, principal fonte de inspiração dos salafistas e jihadistas contemporâneos. "Se a morte horrível (...) permite repelir a agressão, trata-se de uma jihad legítima", afirma Ibn Taymiya.
Horrorizados pela barbárie da execução, muitos muçulmanos convocaram nas redes sociais a queima dos livros deste ideólogo. Já em muitos fóruns jihadistas são divulgados versos do Alcorão para justificar a execução, em particular um trecho da sura (capítulo) An Nahl (As Abelhas): "E se castigar, faça na mesma medida em que foi atingido".
Mas religiosos que denunciam a barbárie do EI sustentam que o verso completo proclama paciência perante o inimigo. Além disso lembram um hadiz (este atribuído ao profeta Maomé) que proíbe a tortura e a morte por fogo. Segundo Hassan Hassan, inclusive os salafistas jordanianos, indiferentes à morte do piloto, "se opuseram à forma como foi executado".