O promotor argentino Alberto Nisman chegou a cogitar pedir a detenção da presidente Cristina Kirchner, segundo um rascunho encontrado em seu apartamento, mas que acabou não sendo incluído na denúncia de acobertamento contra a chefe de Estado, apresentada pouco antes de sua morte misteriosa.
O rascunho foi encontrado em uma lixeira do apartamento do promotor, no qual foi achado morto com um tiro na têmpora em 18 de janeiro, horas antes de explicar sua denúncia contra Kirchner e funcionários próximos, no caso do atentado contra o centro judaico AMIA em 1994, que deixou 85 mortos e 300 feridos, que ele investigava.
Leia mais notícias em Mundo
O texto publicado no domingo pelo jornal Clarín, crítico ao governo Kirchner, havia sido desmentido na segunda-feira (02/02) pela promotora que investiga a morte de Nisman, Viviana Fein. Também foi negado pelo chefe do gabinete, Jorge Capitanich que, durante coletiva de imprensa, rasgou a matéria impressa, qualificando-a de "lixo", o que provocou uma onda de críticas à sua atitude.
No entanto, a promotoria admitiu, nesta terça-feira, ter cometido um "erro involuntário" ao negar a existência do rascunho de 26 páginas, datado de 14 de junho de 2014, e disse que fazia parte dos documentos encontrados no apartamento de Nisman. "Houve uma má interpretação ou um erro involuntário. Não houve má intenção", desculpou-se Fein, após afirmar que não foi alvo de pressões nem do "governo, nem de ninguém", acrescentou.
O esboço da denúncia aumentava nesta terça-feira a confusão em torno do caso, que se mantém nas primeiras páginas dos jornais da Argentina, um país que, segundo pesquisas de opinião, não acredita em suas instituições e onde mais de 70% da população tem certeza de que nunca saberá a verdade sobre a morte do promotor.
Em 14 de janeiro, Nisman acusou Kirchner, o chanceler Héctor Timerman e outros membros próximos do governo de executar um plano para acobertar iranianos suspeitos de participação no atentado contra a AMIA. Até agora, a denúncia foi descartada por dois magistrados e se espera a resposta de um terceiro juiz sobre a acolhida do caso de quase 300 páginas.