Agência France-Presse
postado em 23/01/2015 06:14
Riade, Arábia Saudita - O príncipe Salman, de 79 anos, se tornou nesta sexta-feira (23/1) o novo rei da Arábia Saudita, o maior exportador de petróleo do mundo e um país chave no Oriente Médio, após a morte do rei Abdullah. Um locutor informou na televisão estatal à 1h desta sexta-feira (20h de quinta-feira no horário de Brasília) sobre a morte do soberano, de cerca de 90 anos - sua data de nascimento exata é desconhecida - que reinou oficialmente durante uma década, mas que assumiu as rédeas do reino desde o ataque cerebral sofrido dez anos antes por seu meio-irmão, o rei Fahd.Vítima de uma pneumonia, Abdullah estava internado desde 31 de dezembro em Riad, e sua idade avançada e as muitas hospitalizações alimentavam os rumores sobre o futuro do reino saudita. Seu meio-irmão Salman, de 79 anos, nomeado príncipe-herdeiro em junho de 2012, o sucederá no trono, enquanto Muqrin, outro meio-irmão de Abdullah, se converte no novo príncipe-herdeiro. "Seguiremos, com a força de Deus, no caminho reto que este Estado seguiu desde sua criação pelo rei Abdelaziz Ben Saud", afirmou o novo monarca em um discurso televisionado.
Além disso, designou como segundo príncipe-herdeiro Mohamed Ben Nayef, até agora ministro do Interior, e nomeou como titular da Defesa um de seus filhos, Mohamed Ben Salman.
Petróleo reage em alta
Os preços do petróleo cotado em Nova York registraram uma forte alta após o anúncio da morte de Abdullah. Nos últimos anos, a Arábia Saudita liderava a lista dos países que lutaram para manter ao nível atual da produção petrolífera dos países da Opep, sob o risco de acelerar a queda dos preços do petróleo (-50% desde junho). No entanto, em Davos o economista chefe da Agência Internacional de Energia (AIE), Fatih Birol, disse que não espera uma mudança significativa da política energética do país.
Abdullah manteve a primeira potência petrolífera mundial a salvo das crises do mundo árabe, mas também frustrou as expectativas dos reformistas, sobretudo no que se refere ao papel das mulheres na sociedade. Caracterizado por seu espesso bigode e cavanhaque pretos, o monarca exercia uma forte influência na política regional.
Diante do crescente poder dos movimentos islamitas, a Arábia Saudita se converteu em um importante apoio de Abdel Fatah al-Sissi, atual presidente egípcio, após a deposição do islamita Mohamed Mursi. Também teve um papel chave no apoio à oposição do presidente sírio Bashar al-Assad, autorizando o treinamento de combatentes rebeldes em seu território a cargo do exército americano.
Perda para a paz
As reações à morte deste aliado de Washington e dos ocidentais na luta contra os jihadistas do Estado Islâmico e da Al-Qaeda não demoraram a chegar. O presidente Barack Obama se referiu a ele como um valioso amigo e como um líder sincero que deu passos valentes buscando o objetivo de conquistar a paz no Oriente Médio. O presidente francês, François Hollande, prestou homenagem a um estadista com uma "visão de uma paz justa e estável no Oriente Médio".
Já o ex-presidente israelense Shimon Peres declarou que sua morte era uma verdadeira perda para a paz na região, em referência à iniciativa de paz saudita de 2002 para Israel e Palestina, convertida em uma referência, segundo a Liga Árabe. Inclusive o Irã, um país xiita, apresentou suas condolências, apesar de anos de tensões.
O chefe da diplomacia do Irã, Mohamed Javad Zarif, assim como o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e o rei Abdullah da Jordânia participarão do funeral. Muitos sauditas deram seu último adeus ao monarca na internet, embora alguns, ativistas da liberdade de expressão e dos direitos das mulheres, tenham sido mais críticos.
Em um país onde os meios de comunicação oficiais são fortemente controlados, a internet oferece um espaço de liberdade aos sauditas, embora a rede não esteja isenta de vigilância, como demonstra a recente prisão do blogueiro Raef Badaoui, condenado a 1.000 chibatadas e a dez anos de prisão por insultar o Islã. "Que Deus o perdoe e tenha piedade dele", retuitou a conta do blogueiro após a morte do soberano.