O Banco Central Europeu (BCE) decidiu nesta quinta-feira injetar até 60 bilhões de euros por mês no sistema financeiro, com a chamada expansão quantitativa (EC), como já foi feito pelos Estados Unidos, Japão e Reino Unido, na tentativa de reativar a economia e afastar o fantasma da deflação.
O que é a expansão quantitativa?
Consiste na compra de títulos da dívida pública e privada pelo banco central. O Banco Central Europeu (BCE) não pode financiar diretamente os Estados da zona do euro, ou seja, não pode emitir moeda, apenas comprar os títulos já existentes.
Para falar verdadeiramente da expansão quantitativa, é preciso um programa de grande envergadura e de longo prazo. A compra pelo BCE de títulos da dívida soberana de alguns países em crise (Grécia, Portugal, Irlanda) entre 2010 e 2012, por exemplo, não é considerado EC pois só se destinavam a alguns países, para fazer cair as taxas de juros altas, exigidas pelo mercado para que comprar sua dívida, considerada de risco.
Quais são os efeitos esperados?
O principal objetivo é devolver a confiança entre os investidores com uma "demonstração de força", resume os economistas do banco Berenberg.
A ideia é fomentar um círculo virtuoso: ao gerar uma forte demanda, o valor da dívida aumenta e automaticamente o rendimento cai, fazendo que os bancos destinem seu dinheiro a outros investimentos, como empréstimos a empresas e consumidores. Esses, por sua vez, ao obter taxas de juros baixas dos bancos nos depósitos, podem preferir consumir mais ou, por exemplo, investi-lo em imóveis, na bolsa de valores ou em negócios. Isso estimularia a reativação da economia e o aumento da inflação.
A injeção maciça de dinheiro no sistema financeiro também influencia o valor da moeda. Como as taxas são baixas, há uma fuga de capitais da união monetária, provocando uma desvalorização do euro em relação a outras divisas. Isso favorece empresas europeias exportadoras (seus produtos vendidos em dólares ou em ienes ficam mais baratos). Por outro lado, as importações ficam mais caras, o que pode permitir "importar inflação", favorecendo a dinâmica dos preços.
Atualmente, o euro é trocado no menor preço em relação ao dólar.
Os programas precedentes de EC em outros países foram eficazes?
Para superar a crise financeira iniciada em 2008, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) lançou três programas sucessivos de expansão quantitativa, por um total de aproximadamente 400 bilhões de dólares que contribuíram a relançar a máquina econômica e o emprego. O emprego é um dos objetivos explícitos da política monetária do Fed mas não do BCE, cujo mandato se limita exclusivamente à estabilidade dos preços.
O Banco do Japão (BoJ) iniciou um primeiro programa de expansão monetária em 2001. A manobra foi gradual para tentar combater a deflação, mal crônico da economia japonesa. Em 2013 foi adaptada na política de reativação do primeiro-ministro Shinzo Abe. O plano era injetar na economia 400 bilhões de euros por ano, um valor que em outubro do ano passado passou para 550 bilhões, incluídos os ativos de risco. Esta política melhorou a confiança dos atores econômicos e fez subir o crescimento em um primeiro momento. A economia japonesa voltou à recessão no terceiro trimestre de 2014.
Os críticos à EC temem que, ao abrir os cofres, os governos europeus deixem de sofrer a pressão dos mercados e freiem as reformas de longo prazo, muitas vezes dolorosas e impopulares.
O Reino Unido também usou esse instrumento de política monetária em 2009 e depois em 2011 e 2012.