Jornal Correio Braziliense

Mundo

Ucrânia afasta rebeldes no aeroporto de Donetsk e milhares vão às ruas

Segundo o porta-voz militar ucraniano Andrei Lysenko, essa operação "não viola a trégua" instaurada no início de dezembro

O Exército ucraniano disse neste domingo que repeliu a ofensiva dos rebeldes pró-russos contra o aeroporto de Donetsk, no leste do país, enquanto milhares de pessoas saíram às ruas em Kiev para manifestar seu apoio.

Com a ajuda de pelo menos dez carros de combate, o Exército ucraniano pôs fim, no sábado à noite, à virulenta ofensiva lançada há dois dias pelos separatistas contra o aeroporto de Donetsk. Os ucranianos relataram que foi criada uma passagem para o aeroporto, permitindo a chegada de reforços e a retirada das vítimas.

"Nossos militares conseguiram praticamente limpar o espaço do aeroporto", declarou neste domingo o porta-voz militar ucraniano Andrei Lysenko.

[SAIBAMAIS]Segundo ele, essa operação "não viola a trégua" instaurada no início de dezembro, já que as tropas ucranianas não cruzaram a linha de frente estabelecida nos acordos de Minsk.

Ao longo da noite, ouviam-se disparos de artilharia até no centro da cidade de Donetsk, que se intensificaram pela manhã, relataram jornalistas da AFP, no local. Parte dos transportes públicos deixou de funcionar, e as lojas permaneceram fechadas.

Os combates deixaram três mortos entre os militares, além de 31 feridos, em 24 horas, de acordo com a corporação. Um soldado morreu em outra zona do conflito.

Leia mais notícias em Mundo


Pelo menos cinco civis, incluindo dois meninos, morreram nos bombardeios na região de Donetsk também nas últimas 24 horas, afirmaram autoridades rebeldes e ucranianas.

"Durante toda a noite, os obuses voaram por cima do nosso prédio. A artilharia rebelde dispara de um bairro residencial na direção do aeroporto", contou Margarita, que vive em Donetsk.

"De manhã, os soldados ucranianos começaram a nos bombardear. As pessoas procuraram abrigo. Queimaram muitos carros. Dá medo. Desde agosto que não sentia tanto medo", admitiu a médica Svetlana Savenko, que mora a meio caminho do aeroporto.

Multidão vai às ruas

Em Kiev e em outras grandes cidades ucranianas, milhares de pessoas homenagearam as vítimas do conflito. Já são mais de 4.800 mortos desde abril.

Na capital ucraniana, os manifestantes marcharam no centro da cidade e se reuniram na Praça da Independência (Maidan), lugar dos protestos pró-Europa que levaram à queda do presidente pró-Moscou Viktor Yanukovytch.

Poroshenko e seu primeiro-ministro Arseni Yatseniuk participaram do ato, que contou com a presença de representantes religiosos, entre eles uma autoridade muçulmana e um rabino.

As lideranças religiosas pediram aos ucranianos que orassem em memória dos mortos, pela vitória contra os rebeldes e pelo retorno da paz.

"Vamos vencer. Haverá paz na Ucrânia. O ocupante será expulso do território ucraniano", prometeu Poroshenko.

O patriarca Filaret, chefe da Igreja ortodoxa de Kiev, celebrou uma liturgia em memória de "todos os que faleceram no leste" e, em especial, em Volnovakha, onde 13 civis morreram na última terça.

A maioria dos manifestantes levava cartazes com a frase "Eu sou Volnovakha", em referência à palavra de ordem que varreu o mundo em solidariedade às vítimas do ataque ao jornal satírico francês "Charlie Hebdo".

Preocupação de Moscou
A Rússia disse estar "bastante preocupada" com a intensificação dos confrontos no leste da Ucrânia, o que levou o presidente russo, Vladimir Putin, a escrever uma carta a seu homólogo ucraniano, Petro Poroshenko, propondo-lhe a retirada das armas pesadas da frente de combate.

"Estamos bastante preocupados com o desenvolvimento da situação. Os bombardeios dos bairros residenciais foram retomados em Donetsk e há mortos de novo", declarou o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, citado pelas agências russas de notícias.

Kiev e o Ocidente acusam a Rússia de armar os rebeldes e de enviar tropas para a Ucrânia, o que Moscou nega enfaticamente.