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Tribunal turco ordena bloqueio de sites que divulgarem Charlie Hebdo

A charge representa Maomé segurando um cartaz com a frase "Je Suis Charlie"

Ancara, Turquia - Um tribunal turco ordenou nesta quarta-feira (14/1) o bloqueio dos sites que divulgarem a charge do profeta Maomé publicada na capa da revista satírica Charlie Hebdo após o atentado que dizimou sua redação, informou a agência Anatolia. A decisão, tomada por um tribunal de Diyarbakir (sudeste), implica o bloqueio "ao acesso às páginas de sites que postaram hoje a primeira página da Charlie Hebdo", informou a fonte.

"Aqueles que desprezam os valores sagrados dos muçulmanos publicando desenhos que supostamente representam nosso profeta são claramente culpados de provocação", reagiu no Twitter um dos vice-primeiros-ministros do governo islamita conservador no poder na Turquia, Yalc%u0131n Akdogan. O jornal opositor turco Cumhuriyet publicou nesta quarta-feira a capa com uma charge do profeta Maomé do primeiro número da revista satírica francesa Charlie Hebdo.

[SAIBAMAIS]O jornal publicou quatro páginas traduzidas ao turco, integradas em um caderno central do jornal, que inclui os artigos e caricaturas mais importantes do número desta quarta-feira. Entre os desenhos figura a capa do chargista Luz, que mostra o profeta Maomé com um cartaz com a frase "Je suis Charlie", o slogan dos milhares de manifestantes que marcharam na França e no exterior para condenar os atentados da semana passada, que provocaram a morte de 17 pessoas em três dias.



Em um breve comentário, o editorialista político do Cumhuriyet, Hikmet Cetinkaya, descreve sobriamente a charge. "Repito mais uma vez, o terrorismo é um crime contra a humanidade, seja qual for sua origem", escreve Cetinkaya. "Por isso o profeta tem em sua mão um cartaz que diz ;Eu sou Charlie;", acrescenta o editorialista.

A publicação deste caderno especial, anunciada na véspera, foi fortemente vigiada pelo governo islamita-conservador turco, que no passado denunciou as provocações da revista francesa. O jornal turco anunciou em seu site que a polícia havia se dirigido a sua gráfica em Istambul para examinar o conteúdo do caderno.

A polícia turca mobilizou nesta quarta-feira um grande dispositivo de segurança diante da sede do jornal em Ancara, por medo de manifestações hostis. A direção do Cumhuriyet havia decidido em um primeiro momento publicar todo o número da Charlie Hebdo, mas após uma discussão a redação decidiu limitá-la a quatro páginas. O Cumhuriyet, forte opositor ao presidente turco Recep Tayyip Erdogan, sofreu nos últimos anos diversos atentados e muitos de seus jornalistas foram detidos.