Silvio Queiroz
postado em 05/01/2015 08:00
Com a reeleição da presidente Dilma Rousseff, François Hollande tem no Brasil um parceiro no qual aposta as fichas para compensar as dificuldades internas, que o tornam um dos governantes mais impopulares do país no pós-guerra; e relançar a França com peso no cenário externo. Daí que as expectativas do governo francês para o segundo mandato de Dilma se voltem em grande parte para uma postura mais afirmativa do ;grande país latino-americano;. ;Precisamos do Brasil nas Nações Unidas, no Conselho de Segurança, no debate dos grandes assuntos internacionais;, diz o embaixador da França em Brasília, Denis Pietton.
Em particular, neste ano, Paris joga pesado no sucesso da conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, a COP-21, prevista para o fim do ano. Na condição de anfitrião, o governo de Hollande procura guardar ;uma certa neutralidade;, como pondera o embaixador na entrevista que deu ao Correio nos últimos dias de 2014. O diplomata, que acumula passagens por postos-chave no Oriente Médio e chegou ao Brasil depois de chefiar o gabinete do chanceler Laurent Fabius, não faz reserva, porém, da importância que deposita em uma conduta de liderança do governo Dilma, na condição de uma voz respeitada tanto nos Brics quanto entre os países em desenvolvimento.
É esse mesmo papel de liderança que, argumenta Pietton, pode ser decisivo para que a União Europeia (UE) e o Mercosul aproveitem a presidência brasileira do bloco sul-americano, neste semestre, para finalmente concluir o sonhado acordo birregional que criaria a maior zona de livre comércio do mundo ; a menos que a UE se acerte antes com os Estados Unidos. E é em nome desse reconhecimento que a França, primeira entre as grandes potências mundiais a apoiar explicitamente a candidatura brasileira a uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, pretende continuar investindo na parceria estratégica com o país, em particular no sensível ; e lucrativo ; campo da defesa.
Quais são as suas expectativas para o segundo governo de Dilma Rousseff no que diz respeito às relações bilaterais e à cooperação?
O que esperamos é aprofundar nossa parceria estratégica com o Brasil em todos os terrenos, seja o político, seja o dos intercâmbios culturais, seja os econômicos. Quando falo em aprofundamento, falo de seguirmos com o grande programa dessa parceria, que é a construção dos submarinos, um projeto que funciona de maneira satisfatória, eu creio, para a Marinha e o governo do Brasil. Penso também no domínio da energia, dos satélites, da cooperação cultural e acadêmica, inclusive com o programa Francês sem Fronteiras, que é muito importante porque milhares de estudantes se formaram com base nele. Nós buscamos desenvolver muito o diálogo político, uma decisão tomada pelos dois presidentes, Hollande e Rousseff, e reafirmada na visita do chanceler brasileiro a Paris em março. Começamos a colocar em prática esse acordo trocando consultas sobre Oriente Médio, África, questões mais gerais, estratégicas, negociações nucleares com o Irã. As mudanças climáticas são assunto central nas relações entre França e Brasil, já que nosso país vai sediar a conferência ambiental COP-21 no fim de 2015. A posição do Brasil é central no campo do Brics, dos países emergentes, e nós acreditamos que é possível termos uma parceria também na questão do clima. Nosso chanceler virá a Brasília no primeiro semestre. Nós estamos numa posição peculiar, como país que preside a conferência, e devemos manter uma certa neutralidade, mas somos representados nas negociações pela União Europeia, estamos em plena harmonia com as posições europeias, que é pela redução das emissões de gases causadores do efeito estufa até 2030.
A França também sente falta de uma presença mais ativa do Brasil em assuntos internacionais, como o combate ao Estado Islâmico ou a crise na Ucrânia?
Acho que precisamos do Brasil no cenário internacional. É um grande país da América Latina, candidato a integrar como membro permanente o Conselho de Segurança das Nações Unidas ; a França apoia essa candidatura porque se trata de uma economia importante e o Brasil tem a vocação para assumir responsabilidades internacionais, como já fez no Haiti. Mas é verdade que precisamos do Brasil nas Nações Unidas, no Conselho de Segurança, no debate dos grandes assuntos, como Ucrânia, Oriente Médio e África. Acho que se pode fazer melhor com a concentração das nossas consultas em algumas regiões. O Brasil tem tomado posições sobre vários processos diplomáticos. É bom que tenha uma visão mundial e esteja presente no mundo todo, como a França, que tem a terceira rede diplomática mais vasta do mundo. O Brasil hoje é um ator de porte internacional. Por isso, nos encontramos com frequência.
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