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Pintora argentina faz quadros do papa Francisco e expõe no Vaticano

Artista plástica de Flores, o bairro de Buenos Aires onde Francisco nasceu e cresceu, fala sobre a emoção de ter encontrado o pontífice e exposto no Vaticano um dos quadros que pintou do primeiro papa latino-americano. Conjunto deve excursionar por outros países



Buenos Aires ; Em um ateliê de pouco mais de 30m;, no primeiro andar de um prédio simples do bairro de Flores, a artista plástica Mercedes Fariña, 37 anos, guarda as obras que emocionaram o papa Francisco e mudaram para sempre a vida dela. Mercedes pinta desde os 17 anos. Sempre viveu da arte que produz e ensina em uma sala apertada, a poucos minutos de onde Jorge Mario Bergoglio, hoje o papa Francisco, nasceu e foi criado. De berço católico, a artista não é de frequentar a igreja todos os domingos, mas sempre buscou aliar a fé ao processo criativo.

Em março de 2013, assim como milhões de pessoas em todo o mundo, Mercedes parou diante da televisão quando a fumaça branca anunciou, no Vaticano, que a Igreja Católica tinha um novo líder. Foi difícil segurar a emoção ao ver o ex-arcebispo de Buenos Aires surgir na varanda da Basílica de São Pedro. Nos dias seguintes, o bairro de Flores virou uma festa. Comovidos, os portenhos custavam a acreditar que o padre Jorge chegara ao posto máximo do catolicismo. Inebriada pela alegria que tomava conta das ruas próximas ao ateliê, naquela semana, Mercedes se pôs diante de um quadro em branco e fez nascer uma homenagem ao conterrâneo mais célebre.

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A obra, a primeira de um conjunto de nove, mostra o papa de mãos postas em oração, com a Basílica de São José de Flores ao fundo. Foi lá onde o pontífice diz ter recebido o chamado de Deus para entrar na vida religiosa. O quadro ficou pronto a tempo de ser exposto em uma cerimônia organizada pela prefeitura de Buenos Aires, em frente à casa onde Francisco cresceu.

Uma moradora do bairro, amiga do padre Jorge, encantou-se tanto que pediu autorização para levar uma foto da obra ao homenageado. Após ter o pedido aceito, com entusiasmo, a primeira de várias cartas com o carimbo da Secretaria de Estado do Vaticano chegou, em 23 de maio de 2013, à residência de Mercedes. Na correspondência, o papa agradecia a pintura e pedia que a artista rezasse por ele e pela Igreja. O gesto de gratidão surpreendeu a argentina e serviu de ânimo para que ela continuasse a pintar retratos, algo até então inédito na carreira dela. Ao todo, foram nove obras, consideradas as primeiras no mundo relacionadas a Francisco.


Primeira classe
Em uma das imagens, o papa reza o terço sob a proteção de Nossa Senhora Desatadora dos Nós, a quem ele consagra devoção especial e publicamente reconhecida. Em outra, a pintora faz referência ao célebre afresco pintado pelo mestre renascentista Michelangelo no teto da Capela Sistina. Na última da coleção, o pontífice celebra a paz diante de duas crianças, uma palestina e uma judia. Ainda durante o processo de criação, Mercedes recebeu o convite para participar, na primeira fileira, de uma audiência geral com o papa, que fazia questão de conhecê-la e de expor uma das telas originais no Vaticano. A obra viajou de primeira classe, em avião da Aerolineas Argentinas, e foi levada do aeroporto à sede da Santa Sé em carro oficial.

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Em 9 de outubro de 2013, antes do início da tradicional audiência pública das quartas-feiras, na Praça de São Pedro, Francisco foi até a artista, abençoou-a, voltou a agradecer pelo talento dela e presenteou-a com um terço. ;Vou me lembrar daqueles instantes por toda a vida;, diz ela, sem disfarçar a emoção ao descrever os quase cinco minutos que passou em contato com o chefe da Igreja.

Apoiada em uma bandeira argentina estendida em um alambrado, Mercedes conseguiu apenas devolver os agradecimentos e pedir que o papa desse uma bênção especial ao filho dela, Lorenzo, hoje com 4 anos. Três seguranças ajudaram a carregar o garoto para que Francisco o beijasse, e a foto correu o mundo.