Havana - A dissidência cubana recebeu nesta quarta-feira com desgosto e moderação a decisão dos governos de Cuba e Estados Unidos de restabelecer relações diplomáticas e flexibilizar o embargo.
"Não era o momento oportuno para essas medidas, pois era necessário esperar um gesto decisivo de Havana sobre os direitos humanos, mas a verdade é que já foram tomadas", disse à AFP o ex-preso político José Daniel Ferrer, que preside, em Santiago de Cuba, a União Patriótica de Cuba (UPACU, na sigla em espanhol).
Leia mais notícias em Mundo
No entanto, considerou que "enquanto os Estados Unidos e a União Europeia mantiverem seu compromisso sobre os direitos humanos, serão respeitáveis para a UPACU". "Devemos utilizar as brechas que são abertas com essas medidas", afirmou.
O anúncio, realizado simultaneamente em Washington e Havana pelos presidentes Barack Obama e Raúl Castro, surpreendeu a oposição interna de Cuba, que já se mostrava inquieta diante de alguns sintomas prévios, como oito editoriais do influente jornal New York Times.
Dissidentes contactados pela AFP pediram mais tempo para estudar as medidas, enquanto outros não estavam disponíveis em seus telefones.
A blogueira Yoani Sánchez se referiu em seu diário digital à libertação de três agentes cubanos presos nos Estados Unidos, em troca da liberdade de uma espiã em Havana e do empreiteiro Alan Gross, preso há 5 anos.
"O ;castrismo; venceu", disse Sánchez. "Agora nos esperam longas semanas de aplausos e cânticos, nas quais o governo cubano se proclamará vencedor de sua última batalha", previu.
A blogueira também afirmou que a libertação dos três cubanos se deve ao "jogo político que os totalitaristas pretendem impor aos democratas".
A oposição já havia manifestado sua reprovação às negociações em curso entre a União Europeia e Cuba.
"Boa parte da diplomacia da União Europeia tem usado, nos últimos meses, óculos especiais na hora de observar a realidade cubana", disse um editorial recente do site das opositoras Damas de Blanco.