"Nós queremos que nosso país mantenha seus valores. Isto nos torna nazistas?", questionava-se Michael, enquanto participava de uma marcha pacífica que reuniu 15 mil pessoas nesta segunda-feira em Dresden (leste da Alemanha) contra "a islamização" e "os demandantes de asilo criminosos".
O número de participantes que respondeu à convocação do grupo "Europeus patriotas contra a islamização do Ocidente" (Pegida, em alemão) foi amplamente superior ao da última segunda-feira, que contou com a participação de 10 mil pessoas.
Por sua vez, 6.000 contra-manifestantes também foram às ruas, segundo a polícia, exibindo as faixas "Dresden sem nazistas" e "Dresden para todos". Na última segunda-feira, foram 9.000.
As duas manifestações ocorreram sem incidentes, segundo a polícia, que mobilizou 1.200 homens, a maior parte munida de equipamentos anti-motins, a fim de evitar qualquer contato entre os dois lados.
Exibindo bandeiras e cruzes nas cores preta, vermelha e amarela, do pavilhão da Alemanha, os manifestantes do "Pegida" foram às ruas da capital do estado da Saxônia, na antiga Alemanha oriental, que conta com 2,2% de habitantes de origem estrangeira.
Entre eles, militantes de extrema-direita, neonazistas e, sobretudo, cidadãos comuns que declaravam sua recusa de um "Ocidente", segundo eles, em vias "de islamização" ou seu temor em face ao afluxo de refugiados, enquanto a Alemanha se tornou o destino principal de imigração na Europa, buscado sobretudo por refugiados (180.000 em 2014, 57% a mais com relação a 2013).
"Acordem", "Não vamos mais nos enganar", "Somos cidadãos adultos, não escravos" eram as palavras de ordem repetidas por manifestantes do "Pegida", para alegria de seu fundador, Lutz Bachmann.
"O povo nos dá razão", declarou em meio à multidão o homem barbudo de ombros largos. "Os políticos não podem mais nos ignorar", comemorou, enquanto manifestantes ligavam seus celulares, produzindo uma onda de luz que iluminava as bandeiras alemãs.
O protesto é o nono organizado pelo movimento Pegida, lançado em outubro, mas que rapidamente ganhou espaço, organizando a cada semana as "Manifestações de segunda-feira", seguindo o modelo daqueles que, há 25 anos, fizeram tremer o Muro de Berlim.
O "Pegida" reciclou o famoso slogan "Nós somos o povo", criado na época pelos contrários ao regime comunista da antiga Alemanha oriental.
"Nós não queremos mais num afluxo de demandantes de asilo, não queremos uma islamização. Nós queremos que o nosso país preserve seus valores. Isto é tão terrível? Isto nos torna nazistas? É um crime ser patriota?", questionou-se Michael Stürzenberger, um manifestante, em declarações à AFP.
"Dizer que estas pessoas são islamofóbicas é escandaloso. Não são de extrema-direita. Simplesmente amam seu país e suas tradições", disse Lana Gabriel, uma austríaca de 40 anos.
Apesar de ser amplamente cobertas pela imprensa, as manifestações do "Pegida", que já se espalharam para meia dúzia de cidades, não são, no entanto, as únicas do gênero na Alemanha: o país também viu nas últimas semanas várias reuniões hostis aos estrangeiros, organizadas em todo o país por diversos movimentos neonazistas ou de extrema-direita.
Uma onda populista que inquieta as autoridades alemãs até os mais altos cargos do Estado. Nesta segunda-feira, a chanceler conservadora, Angela Merkel, pessoalmente criticou com firmeza estas manifestações, ao considerar que não havia lugar na Alemanha "para a incitação ao ódio e à calúnia".
O ministro da Justiça, o social-democrata Heiko Maas, por sua vez, falou de uma "vergonha para a Alemanha".
Apesar disso, uma pesquisa de opinião feita pelo site na internet do semanário alemão ;Die Zeit;, revelou nesta segunda-feira que quase um alemão em cada dois (49%) tinha simpatia pelas manifestações do "Pegida".
Trinta por cento disseram apoiá-las "totalmente" e 59% consideraram que a Alemanha acolhe demandantes de asilo demais.