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Ucrânia está mais perto de se tornar membro da Otan, sinaliza governo

A decisão deve gerar ampla reação do governo russo, que, em várias ocasiões, manifestou grande insatisfação com essa possibilidade

Uma decisão que pode mudar os rumos do conflito no Leste da Ucrânia. O governo ucraniano anunciou, no fim da tarde dessa quarta-feira (10/12), que vai revogar uma lei de 2010 e abandonar o status de não-aliado à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), com o objetivo de abrir caminho para sua adesão definitiva à organização.

A decisão deve gerar ampla reação do governo russo, que, em várias ocasiões, manifestou grande insatisfação com a possibilidade. O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, chegou a chamar a expansão da Otan sobre a Europa Oriental de ;imprudente;. ;É um erro que está acabando com a estabilidade da região;, disse ele em novembro.

O governo da Ucrânia vê nessa adesão uma forma de garantir mais apoio em caso de uma suposta intervenção militar. O investigador-chefe do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU), Vasily Vovk, afirmou em entrevista à imprensa nesta quinta-feira (11/12) que há riscos de que novas rebeliões aconteçam em Carcóvia ; segunda maior cidade do país, e em Odessa. ;A situação não está favorável. Essas duas cidades podem se tornar as próximas Donetsk e Lugansk;, disse Vovk.

O chefe do recém-criado Secretariado de Segurança e Cooperação com a Otan e a União Europeia, Yevhen Marchuk, afirmou que a Ucrânia ainda tem um longo caminho a percorrer para que se torne um membro da Otan. ;Temos que preparar a base legal para que isto aconteça;, observou ele.

A Otan é uma aliança militar criada em Washington, nos Estados Unidos, em 1949, durante a Guerra Fria. Seus 28 estados-membros concordam com a defesa mútua em resposta a um ataque por qualquer entidade externa à organização.

Em 1999, a organização começou a se expandir para a Europa, com a adesão da República Tcheca, Hungria e Polônia. Depois, em 2004, foram admitidas as repúblicas do Báltico, da Estônia, Letônia e Lituânia; a Romênia, Eslováquia e Eslovênia. Em 2008, iniciou as negociações para o ingresso da Geórgia e Ucrânia, que nunca foram concluídas justamente pelo temor de uma reação russa. Em 2009, Albânia e Croácia entraram para a organização.

Em recente artigo publicado na revista Foreign Affairs, o professor de Ciência Política da Universidade de Chicago, John Mearsheimer, afirmou que os Estados Unidos e os aliados europeus têm grande responsabilidade pela crise da Ucrânia.



;A raiz do programa é a expansão da Otan, o elemento central de uma grande estratégia para mover a Ucrânia para fora da órbita da Rússia e integrá-la ao Ocidente. Ao mesmo tempo, a expansão da União Europeia em direção ao Leste e o apoio do Ocidente ao movimento pró-democracia na Ucrânia foram elementos críticos, também. A ação de Putin não deveria ser surpresa. Afinal de contas, o Ocidente entrou no quintal da Rússia e ameaçou seus interesses estratégicos fundamentais;, disse.