Lima- As negociações da conferência das Nações Unidas sobre o clima entraram em uma etapa decisiva nesta terça-feira (9/12) para alcançar um consenso sobre medidas para limitar a dois graus Celsius o aquecimento global até 2100, com um pedido de urgência do secretário-geral, Ban Ki-moon.
"Ainda há uma chance de manter em menos de 2;C o aumento da temperatura, mas a janela de oportunidades pode se fechar em breve", disse Ban, que impulsiona as negociações da conferência COP20, que terminará na próxima sexta-feira em Lima.
[SAIBAMAIS]"Trago uma mensagem de esperança, mas também de urgência. Temos que agir agora", insistiu Ban perante a sessão plenária. A COP20 deve costurar as ações que serão apresentadas dentro de um ano na conferência de Paris, para ali alcançar um acordo multilateral que enfrente as mudanças climáticas.
Se não forem tomadas medidas, o nível atual de emissões de gases levaria a um aumento das temperaturas entre 4; C e 5; C até 2100, uma perspectiva de ameaça a segurança alimentar e o acesso à água potável, provocando eventos climáticos extremos.
A temperatura média do planeta já subiu 0,8; C com relação a era pré-industrial. Christiana Figueres, secretária executiva da convenção das mudanças climáticas da ONU, também instou aos ministros que acelerem os acordos, enquanto pediu para preservar a equidade.
"A história nos julgará não só pela quantidade de toneladas de gases de efeito estufa, cujas emissões poderemos reduzir, mas também por nossa capacidade de proteger os mais vulneráveis, para aliviar a pobreza e para criar um futuro de prosperidade para todos", disse em sua intervenção.
Enquanto isso, o presidente da Bolívia, Evo Morales, instou "celebrar um acordo de mudanças climáticas baseado na proteção da vida e da mãe terra e não no mercado, no lucro e no capitalismo".
Apesar de que até agora não houve um bloqueio no debate, que começou em 1; de dezembro passado, os países se mostram divididos sobre alguns temas fundamentais, entre eles os recursos para a adaptação e a mitigação que devem oferecer antes de junho próximo.
Outro ponto difícil é a forma como se medirá o cumprimento de cada país quanto à redução de emissões dos gases de efeito estufa. Desde a segunda-feira, os negociadores contam com um esboço do documento no qual se recolhem as diversas posições expressas até agora pelos países e que terão que se harmonizar até o encerramento da conferência.
Divisão de culpas
Outro tema difícil é a diferenciação de responsabilidades no aquecimento global entre os países.
Embora as nações industrializadas admitam sua responsabilidade na elevação das temperaturas da Terra, atualmente alguns países emergentes estão entre os principais emissores de gases de efeito estufa, como a China, em primeiro lugar, e a Índia, em quarto.
"Neste assunto, o mundo de 2015 ou de 2020 não é o de 1992", destacou na segunda-feira Miguel Arias Cañete, em alusão à convenção da ONU sobre o clima, que diferenciou responsabilidades em duas categorias de países: desenvolvidos e em vias de desenvolvimento.
Nesta terça-feira, os ministros deverão abordar também o tema do financiamento para a adaptação, estabelecido em 100 bilhões de dólares ao ano a partir de 2020.
Povos indígenas
Paralelamente à conferência, celebra-se em Lima esta semana a "Cúpula dos Povos", que reúne comunidades indígenas e organizações sociais de defesa do meio ambiente. Nesta terça (9/12), representantes dos povos indígenas apresentaram suas demandas a ministros e funcionários da ONU, em particular sobre direitos e preservação do território.
Os indígenas peruanos exigem na COP20 a titulação das terras onde vivem, muitas situadas na selva amazônica e em regiões andinas. "Exigimos não um ou dois milhões de hectares, mas 240 milhões, para o resfriamento do planeta", enfatizou o líder indígena Edwin Vázquez.
Segundo um recente informe do instituto World Resources, as comunidades indígenas estão assentadas em 500 milhões de hectares de florestas no mundo. Mas com frequência carecem de titulação sobre estas terras. Nesta quarta-feira (10/12), as organizações indígenas farão uma marcha em Lima, que esperam que seja multitudinária, liderada pelo presidente boliviano, Evo Morales.