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HRW e EUA criticam acusação contra opositora venezuelana Maria Machado

Deputada foi acusada na quarta-feira (3/12) pelo Ministério Público venezuelano de conspirar para assassinar o presidente venezuelano

Bogotá - A acusação de conspiração contra a deputada destituída da oposição venezuelana Maria Corina Machado é "uma farsa" que evidencia a "falta de independência judicial" no país e uma tentativa de intimidação que deixa "profundamente preocupados" os Estados Unidos, anunciaram, nesta quinta-feira (4/12), a ONG Human Rights Watch (HRW) e o Departamento de Estado americano.

"À luz das evidências que mostraram o governo, os adjetivos e as qualificações usadas pelo próprio presidente (Nicolás) Maduro, que a chamou de assassina, (...) dá a impressão de que constitui, simplesmente, mais uma farsa", disse, em Bogotá, o diretor para as Américas da ONG de defesa dos Direitos Humanos, Human Rights Watch, José Miguel Vivanco.

A deputada foi acusada na quarta-feira (3/12) pelo Ministério Público venezuelano de conspirar para assassinar o presidente venezuelano. "A falta de independência do poder judiciário, que passou a ser um apêndice do Executivo, já ultrapassou todos os limites", acrescentou Vivanco, que assegurou não ver evidências que indiquem que Machado participou de uma "conspiração para assassinato político".

O representante da HRW também pediu à comunidade internacional que aumente a pressão sobre o governo venezuelano por casos como a da opositora, que ficou em liberdade após ser formalmente acusada, mas se for considerada culpada poderá ser condenada a uma pena de até 16 anos de prisão.

"A comunidade internacional deve aumentar a pressão sobre a Venezuela por causa dos fatos que estão ocorrendo ali, é a obrigação coletiva de todas as democracias nesta região e no resto do mundo", disse Vivanco. "Não há instâncias democráticas independentes hoje em dia de pé na Venezuela, capazes de contrabalançar o abuso de poder de parte do governo", acrescentou.

Alinhado com o apelo da HRW, o Departamento de Estado americano se disse profundamente preocupado com o que chamou de tentativa de intimidação da oposição venezuelana.

"Estamos profundamente preocupados com o que parece ser a continuidade dos esforços do governo venezuelano de intimidar seus opositores políticos mediante abusos no processo legal", disse a porta-voz, Marie Harf.

Washington "continuará chamando o governo da Venezuela a respeitar os direitos de reunião pacífica e de associação e libertar presos políticos, inclusive dezenas de estudantes e líderes opositores", disse Harf.

Ao deixar a promotoria nesta quarta-feira (3/12), a acusada, Maria Machado qualificou de "infâmias" as acusações contra ela. O suposto plano de assassinato de Maduro, um dos muitos denunciados no último ano, é investigado desde março passado após uma denúncia de deputados da situação, que também acusam outros opositores e o embaixador americano na Colômbia, Kevin Whitaker.

Em maio passado, o Departamento de Estado já tinha considerado as acusações contra Whitaker como "absolutamente falsas". Ao lado de Leopoldo López, líder político preso por acusações de promover a violência nos protestos antigovernamentais que deixaram 43 mortos entre fevereiro e maio, Maria Machado é uma das promotoras da estratégia "La Salida" (a saída), que buscava a renúncia de Maduro com protestos de rua.



Com 47 anos e atualmente proibida de deixar o país, ela foi destituída em março do mandato de deputada da Assembleia Nacional, após participar do Conselho Permanente da Organização de Estados Americanos (OEA) ocupando a cadeira do Panamá, o que provocou um conflito diplomático que levou ao rompimento, por parte da Venezuela, das relações bilaterais, retomadas em 1; de julho.