Kiev - Moscou acusou neste sábado o Ocidente de tentar promover uma mudança de regime por meio de sanções justificadas pelo papel do governo do presidente Vladimir Putin na crise ucraniana, enquanto Kiev denuncia a presença de 7.500 soldados russos no leste separatista do país.
A Rússia, acusada por Kiev e pela Otan de mobilizar tropas no leste da Ucrânia, desmente qualquer envolvimento no conflito que já deixou 4.300 mortos desde seu início, em abril.
No entanto, em uma nova fase de escalada verbal, o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, acusou neste sábado o Ocidente de buscar uma mudança de regime na Rússia.
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"Agora há políticos no Ocidente que defendem a imposição de sanções que destruiriam a economia (russa) e provocariam protestos populares", disse Lavrov, citado pela agência Tass.
Os Estados Unidos e a União Europeia impuseram à Rússia as sanções econômicas mais severas desde o fim da Guerra Fria pelo papel de Moscou no conflito ucraniano.
Essas sanções foram aplicadas após a anexação da Crimeia, em março, e foram endurecidas depois da queda de um Boeing 777 com 298 pessoas a bordo, atingido por um míssil quando atravessava o espaço aéreo sobre um território controlado por separatistas pró-russos na Ucrânia.
As medidas econômicas representaram um duro golpe para a economia da Rússia, à beira da recessão. A moeda local, o rublo, perdeu um terço de seu valor frente ao dólar e ao euro desde o início do ano.
O vice-presidente americano, Joe Biden, em visita a Kiev na sexta-feira - em ocasião do primeiro aniversário da revolta pró-Ocidental -, prometeu que a Rússia pagará caro por sua agressão à Ucrânia.
Soldados russos no leste da Ucrânia
Em meio a este contexto de tensão, a Ucrânia denunciou a presença de 7.500 soldados russos no leste do país.
"A presença de 7.500 representantes das forças armadas russas no território ucraniano é um fator perturbador que nos impede de estabilizar rapidamente a situação em nosso país", declarou na sexta-feira o ministro da Defesa ucraniano, Stepan Poltorak, em uma reunião com adidos militares estrangeiros, segundo um comunicado publicado neste sábado no site do ministério.
Também na manhã deste sábado, o Estado-Maior da operação antiterrorista que a Ucrânia realiza no leste denunciou a entrada pela Rússia de 20 novos equipamentos militares pelo posto fronteiriço de Izvariné, controlado pelos separatistas pró-russos.
Este material era levado a Lugansk, capital regional e reduto rebelde, segundo a mesma fonte.
Por outro lado, quatro soldados ucranianos e um civil morreram em combates nas últimas 24 horas.
Olhares voltados para a Otan
A denúncia do ministro da Defesa foi feita um dia após a nova coalizão parlamentar, apresentada na sexta-feira na Ucrânia, ter se comprometido a fazer da adesão à Otan uma prioridade, acentuando a aproximação com o Ocidente desta ex-república soviética.
Cinco partidos pró-ocidentais que venceram as eleições legislativas de 26 de outubro anunciaram na sexta-feira a criação de uma coalizão que, pela primeira vez na história, contará com votos suficientes para emendar a Constituição.
Segundo o texto do acordo de coalizão, o objetivo é "anular o status de não-alinhado da Ucrânia" e "reativar a política em relação a uma adesão à Otan".
A Otan, uma aliança militar de 28 nações, que inclui os Estados Unidos, advertiu nesta semana para a mobilização de tropas, de artilharia e do sistema de defesa russos dentro da Ucrânia e no lado russo da fronteira.
O Exército americano anunciou o envio à Ucrânia de três radares para detectar e localizar disparos de morteiros.
A situação atual na ex-república soviética criou uma tensão sem precedentes entre o Ocidente e a Rússia desde o fim da Guerra Fria, há quase 25 anos.