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Jihadistas fazem novo ataque para se apoderar de cidade iraquiana de Ramadi

Os disparos de morteiro caíam nos bairros do centro, enquanto que os confrontos com armas leves prosseguiam na periferia

Bagdá - Os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI) lançaram nesta sexta-feira (21/11) uma nova ofensiva para se apoderar da cidade iraquiana de Ramadi, cuja tomada lhe permitiria consolidar sua autoridade sobre a província estratégica de Al-Anbar, na fronteira com a Síria.

No exterior, os ocidentais, principalmente a França, estão preocupados com o envolvimento de um número crescente de cidadãos nesta organização jihadista, que controla vastas áreas no Iraque e na Síria.

Responsável por terríveis atrocidades e acusado pela ONU de crimes contra a Humanidade, o EI procura tomar a totalidade de Ramadi (100 km a oeste de Bagdá), uma das últimas zonas urbanas parcialmente sob controle das forças governamentais na província de Al-Anbar. Segundo uma autoridade, o EI lançou "um ataque surpresa a partir do norte, oeste, leste e sul", fazendo uso de carros-bomba e morteiros.

Os jihadistas, que atacam com morteiros o centro da cidade desde a madrugada, conseguiram tomar o bairro de Madiq, mas "a polícia, o exército e as forças tribais (aliadas) conseguiram parar o ataque", informou um outro responsável.

Um membro do conselho provincial, Azzal al-Fahdawi, pediu "apoio da força aérea iraquiana ou dos aviões da coalizão internacional" liderada pelos Estados Unidos.

A coalizão tem realizado ataques perto de Ramadi nas últimas 72 horas, anunciou nesta sexta-feira (21/11) o comandante americano encarregado pela região (Centcom). Quase toda a província de Al-Anbar é controlada pelos jihadistas e a tomada de Ramadi, sua capital, constituiria uma importante vitória.

Parte da região foi tomada pelo EI em janeiro e seus combatentes ampliaram sua influência no norte do Iraque.

Vinte e um soldados mortos na Síria

Desde então, o exército iraquiano tenta recuperar terreno com a ajuda de combatentes curdos e xiitas e de tribos sunitas leais ao governo. Desde agosto, também conta com a ajuda aérea da coalizão.

Nas últimas semanas, as forças do governo registraram algumas vitórias, como a reconquista de Baiji e o fim do cerco da principal refinaria de petróleo do país.

Dando continuidade a seus abusos, o EI executou nesta sexta-feira (21/11) em público no norte do Iraque dois jovens homens acusados de ter colaborado com as forças iraquianas, segundo autoridades e testemunhas.

Mais ao norte, em Erbil, capital da Curdistão, o primeiro-ministro turco Ahmet Davutoglu se reuniu com o presidente desta região autônoma, Massud Barzani, cujas forças também combatem o EI.

Na Síria vizinha, devastada pela guerra civil, ao menos 21 soldados e milicianos pró-regime foram mortos em combates com os jihadistas nas últimas 24 horas perto do campo de gás de Shaer, na província de Homs (centro).

O EI reúne dezenas de milhares de combatentes, incluindo cidadãos de vários países ocidentais. O grupo extremista sunita também decapitou cinco reféns ocidentais. Todos esses assassinatos foram reivindicados em vídeos que chocaram a comunidade internacional. O último, divulgado no domingo, mostrava a decapitação de 18 soldados sírios, além da cabeça decepada de Peter Kassig, um trabalhador humanitário americano que o grupo sequestrou em 2013 na Síria.

Identificar jihadistas franceses

A França, primeiro país a se juntar à campanha aérea americana no Iraque, anunciou ter identificado dois franceses, Maxime Hauchard e Michael Dos Santos, entre os carrascos que aparecem no último vídeo do grupo.

No entanto, alguns especialistas duvidam da identidade do segundo, considerando que ele se expressa muito bem árabe para ser de origem portuguesa. A mãe de Mickael Dos Santos também não reconheceu o filho.

Na quinta-feira (20/11), uma investigação foi aberta em Paris após a publicação de um outro vídeo de EI, onde três jihadistas convocam em francês seus "irmãos muçulmanos" para lutar a seu lado.

Na Holanda, uma jovem holandesa de 19 anos, suspeita de terrorismo depois de viajar para a Síria para se casar com um jihadista do EI, compareceu no tribunal nesta sexta-feira (21/11) e pode pegar até 30 anos de prisão.



De acordo com ativistas e ONGs, o grupo ultrarradical prendeu ou executou vários jihadistas estrangeiros que se juntaram às suas fileiras, mas que decidiram voltar para casa.

"Muitos jihadistas, a maioria da Europa Ocidental, fugiram quando os ataques da coalizão contra o EI (na Síria) começaram em setembro", disse à AFP via internet um ativista de Raqa, bastião do EI na Síria.